terça-feira, 24 de novembro de 2015

OLHAR AS CAPAS


46º Aniversário

João José Cochofel
Prefácio de Urbano Tavares Rodrigues
Colecção Poetas de Hoje nº 20
Portugália Editora, Lisboa, Maio de 1966

Não,
não temos alma,
amigos poetas de longe,
não temos alma para cantar a certeza
até ao fundo.

A que revela ao mundo,
mesmo nas horas instáveis,
os olhos de Elsa
e os corpos memoráveis.
E traz com ela
o cio que acorda a terra
e tanto dá as árvores ao vento
e as praias ao mar,
como os seios às mãos
e os sexos à gula
de um corpo, lua tangível
e desnuda
em vossos versos reflectida.

Ânsia que vos não erra,
poetas de longe,
límpidos olhos
onde dorme a exacta flor prometida.

Num silêncio trespassado de lágrimas
mais duras que as choradas,
outro era o quinhão que nos cabia:
a cantar esta secura
de água sem nascente.
Um brejo de agruras
onde calam todas as fontes
dos dedos brotadas.

Enquanto num frémito de violinos
molhados de espanto de furar a treva
despertam flutuações carnais abrindo,
tão naturais
como te queremos, Terra!

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