quinta-feira, 26 de novembro de 2015

OS IDOS DE NOVEMBRO DE 1975


26 de Novembro de 1975

O dia seguinte

Rodrigues da Silva, jornalista do Diário Popular:

Algures, numa dobra da história, alguma coisa falhou, algum erro se cometeu. Seria altura de saber, onde, como, porquê. Mas talvez seja demasiado tarde…

O 25 de Novembro é o fim da revolução. Acabou para mim… Uma coisa que eu não suportava era ouvir dizer que a revolução continuava depois do 25 de Novembro. Isso não. Não se engana o povo. Porque eu acho que é uma coisa inadmissível enganar o povo. E se algumas vezes me irritei com o Partido Comunista uma das razões foi essa. Eu percebia qual era a intenção, mas achava que era um desrespeito pelas pessoas. Era preciso não deixar as pessoas desanimar… é verdade… mas também dizer-lhes que a revolução continuava…
Quando era evidente, depois do 25 de Novembro, que tinha acabado a revolução.


Foram longe de mais. Nem um mês, nem um ano, nem um século decorrerão sem que vos roa um a um as entranhas e pague com a pior peste a ousadia de cercar-me à traição, de limitar-me a voz, os acessos, a vida. Pela voz de todos os que aqui feneceram de excessos e ardores, os meus poetas, os meus desmesurados de sempre, os meus cidadãos da aventura, os grandes viajantes, eu vos amaldiçoo. Um por um vos hei-de corromper do desastre lento, da aventura adiada. Eu não sou a cidade de origem, eu sou a tomada da na ida, a reconquistada dez mil vezes com um farnel e um saco de pano, a donde se vem mudar a vida, a nossa. Vocês pagam. Esta é uma maldição lançada aos reles da ressurreição da minha história. As minhas janelas hão-de abrir-se de novo a escarnecer usurpadores a soldo, a cuspir-vos para esse país de rezas e mesinhas sem luz nem ar onde conservais os vossos trastes e cagais sentenças e ditadores em nome do bom senso. Eu sou a cabeça da terra dos que mais tentam a morte que tal sorte. Eu duro da aventura desventurada, o menor mal. Vocês pagam.

A declaração do estado de emergência, proibia a publicação de jornais na região de Lisboa, bem como a distribuição e venda, na área do Governo Militar de Lisboa, de jornais de outros pontos do país.

Os jornais só voltarão às bancas no dia 1 de Dezembro.

A informação ao país processava-se através dos estúdios do Porto da RTP e da Emissora Nacional.


Até deliberação em contrário do Conselho da Revolução, manter-se-á a proibição da publicação de jornais na área da Região Militar de Lisboa. Esta proibição não abrange os jornais desportivos.

De uma ma outra nota oficiosa:

A pedido de muitos trabalhadores que necessitam de movimentar-se antes das seis horas, o Conselho da Revolução alterou o período de recolher obrigatório, que passou a ser entre as zero e as cinco horas.

De uma posterior nota oficiosa:

A proclamação do estado de sítio na área da Região Militar de Lisboa inclui restrições aos direitos de reunião, manifestação e expressão.

Às três horas da madrugada, o comando do Regimento da Polícia Militar informava que os comandos tinham chegado à zona e dispersado as massas populares que se encontravam frente ao quartel, recorrendo a granadas de mão.

Um oficial da Polícia Militar em contacto telefónico com um jornalista do Diário Popular, desabafou:

Fomos traídos até ao tutano! Foi uma traição! Foi uma traição!

Dos incidentes ocorridos junto ao Quartel da Polícia Militar, o Estado-Maior-General da Forças Armadas, informava em comunicado, que se verificou, segundo tudo indica alvejados pelas costas  por civis armados, a morte de um oficial e um sargento dos comandos,

Ao começo da tarde, um veículo, segundo fonte oficial, terá desobedecido à intimidação de parar e foi atingida a tiro de metralhadora pelos Comandos.
Segundo a mesma fonte, os comandos teriam apontado para os pneus mas acabaram por atingir mortalmente a acompanhante da condutora do veículo.

Por determinação do Presidente da Republica, cerca das 5 horas, o major Dinis de Almeida, comandante do RALIS, apresentou-se, no Palácio de Belém, tendo-lhe sido dada ordem de prisão.

Já madrugada alta, o Estado-Maior-General das Forças Armadas emite um comunicado dando conta dos acontecimentos verificados durante o dia.

No comunicado é realçada a actuação exemplar do Regimento de Comandos, que, com a maior eficácia, serenidade e mais completa abnegação revolucionária. Respeitaram e cumpriram as ordens dos seus superiores.

Fontes:

-Acervo pessoal.

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