26 de Novembro
de 1975
O dia seguinte
Rodrigues da
Silva, jornalista do Diário Popular:
Algures, numa dobra da história, alguma coisa falhou, algum erro se cometeu. Seria altura de saber, onde, como, porquê. Mas talvez seja demasiado tarde…
O 25 de Novembro é o fim da revolução. Acabou para
mim… Uma coisa que eu não suportava era ouvir dizer que a revolução continuava
depois do 25 de Novembro. Isso não. Não se engana o povo. Porque eu acho que é
uma coisa inadmissível enganar o povo. E se algumas vezes me irritei com o
Partido Comunista uma das razões foi essa. Eu percebia qual era a intenção, mas
achava que era um desrespeito pelas pessoas. Era preciso não deixar as pessoas
desanimar… é verdade… mas também dizer-lhes que a revolução continuava…
Quando era evidente, depois do 25 de Novembro, que
tinha acabado a revolução.
Foram longe de mais. Nem um mês, nem um ano, nem um
século decorrerão sem que vos roa um a um as entranhas e pague com a pior peste
a ousadia de cercar-me à traição, de limitar-me a voz, os acessos, a vida. Pela
voz de todos os que aqui feneceram de excessos e ardores, os meus poetas, os
meus desmesurados de sempre, os meus cidadãos da aventura, os grandes
viajantes, eu vos amaldiçoo. Um por um vos hei-de corromper do desastre lento,
da aventura adiada. Eu não sou a cidade de origem, eu sou a tomada da na ida, a
reconquistada dez mil vezes com um farnel e um saco de pano, a donde se vem
mudar a vida, a nossa. Vocês pagam. Esta é uma maldição lançada aos reles da
ressurreição da minha história. As minhas janelas hão-de abrir-se de novo a
escarnecer usurpadores a soldo, a cuspir-vos para esse país de rezas e mesinhas
sem luz nem ar onde conservais os vossos trastes e cagais sentenças e ditadores
em nome do bom senso. Eu sou a cabeça da terra dos que mais tentam a morte que
tal sorte. Eu duro da aventura desventurada, o menor mal. Vocês pagam.
A declaração do
estado de emergência, proibia a publicação de jornais na região de Lisboa, bem
como a distribuição e venda, na área do Governo Militar de Lisboa, de jornais
de outros pontos do país.
Os jornais só
voltarão às bancas no dia 1 de Dezembro.
A informação ao
país processava-se através dos estúdios do Porto da RTP e da Emissora Nacional.
Até deliberação em contrário do Conselho da Revolução,
manter-se-á a proibição da publicação de jornais na área da Região Militar de
Lisboa. Esta proibição não abrange os jornais desportivos.
De uma ma outra
nota oficiosa:
A pedido de muitos trabalhadores que necessitam de
movimentar-se antes das seis horas, o Conselho da Revolução alterou o período
de recolher obrigatório, que passou a ser entre as zero e as cinco horas.
De uma posterior
nota oficiosa:
A proclamação do estado de sítio na área da Região
Militar de Lisboa inclui restrições aos direitos de reunião, manifestação e
expressão.
Às três horas da
madrugada, o comando do Regimento da Polícia Militar informava que os comandos
tinham chegado à zona e dispersado as massas populares que se encontravam
frente ao quartel, recorrendo a granadas de mão.
Um oficial da
Polícia Militar em contacto telefónico com um jornalista do Diário Popular,
desabafou:
Fomos traídos até ao tutano! Foi uma traição! Foi uma
traição!
Dos incidentes
ocorridos junto ao Quartel da Polícia Militar, o Estado-Maior-General da Forças
Armadas, informava em comunicado, que se verificou, segundo tudo indica
alvejados pelas costas por civis armados, a morte de um
oficial e um sargento dos comandos,
Ao começo da
tarde, um veículo, segundo fonte oficial, terá desobedecido à intimidação de
parar e foi atingida a tiro de metralhadora pelos Comandos.
Segundo a mesma
fonte, os comandos teriam apontado para os pneus mas acabaram por atingir
mortalmente a acompanhante da condutora do veículo.
Por determinação
do Presidente da Republica, cerca das 5 horas, o major Dinis de Almeida,
comandante do RALIS, apresentou-se, no Palácio de Belém, tendo-lhe sido dada
ordem de prisão.
Já madrugada
alta, o Estado-Maior-General das Forças Armadas emite um comunicado dando conta
dos acontecimentos verificados durante o dia.
No comunicado é
realçada a actuação exemplar do Regimento de Comandos, que, com a maior
eficácia, serenidade e mais completa abnegação revolucionária. Respeitaram e
cumpriram as ordens dos seus superiores.
Fontes:
-Acervo pessoal.
Fontes:
-Acervo pessoal.
Sem comentários:
Enviar um comentário