25 de Novembro de
1975.
Cerca das 2 e 30
da madrugada, quatro chaimites dos comandos da Amadora chegam ao Palácio de
Belém. Duas delas bloqueiam a Calçada da Ajuda. O comandante da Polícia
Militar, Campos Andrada, contacta o Regimento de Comandos sendo-lhe respondido
que aquela força estava a cumprir ordens do Presidente da República. Pedidas
explicações para a Presidência da República, é confirmado que as chaimites
estavam à ordem do Presidente da República, mas que tinha havido uma má
interpretação e iriam regressar imediatamente
O Conselho da
Revolução, ao fim de oito horas de reunião em Belém, decidiu manter a nomeação
de Vasco Lourenço para comandante da Região Militar de Lisboa.
04,00 horas - tropas pára-quedistas ocupam as bases aéreas
de Tancos, Montijo, o Estado Maior da Força Aérea, o Comando da Região Aérea, o
GDACI , em Monsanto, e a Ota.
05,40 horas - após
cerca de 12 horas de interrupção do trânsito entre Leiria e Lisboa, são
levantadas as barricadas montadas por agrários e pequenos proprietários.
13,30 horas – o Presidente
da República classifica a operação dos para-quedistas de sublevação.
14,30 horas - Otelo
Saraiva de Carvalho chega ao COPCON no Forte do Alto do Duque.
Varela Gomes
há-de escrever:
Mas não havia nada a fazer. A grande decisão estava
tomada. Otelo Saraiva de Carvalho obedecia à convocação do general
Costa Gomes, largando os “paras” à sua sorte. O estratega do 25 de Abril de
1974 abandonava vergonhosamente o seu posto de comando em 25 de Novembro de
1975. Na hora do aperto, fugia de calças na mão, à procura do refúgio
protector.
Deveriam ser cercadas 15,00 horas quando o general
graduado Otelo Saraiva de Carvalho saiu do Copcon… e da revolução.(1)
Dinis de Almeida
também, escreverá:
O desinteresse manifesto de Otelo pelo controlo e
coordenação das suas próprias forças militares, torna-se hora a hora mais inquietante.
Só da parte da tarde aparecerá no COPCON, onde apenas
permanecerá por momentos.
Arrancará pouco depois para Belém onde afirmará junto
a Vasco Lourenço e Marques Junior que ”… eu próprio lancei os pára quedistas,
após o que a seguir os abandonei de propósito para lixar a esquerdalhada… que
andava sempre a chatear-me…” (2)
“Desgraçada Revolução que tais chefes teve”, dissera
um dia Vasco Gonçalves, referindo-se concretamente a uma das muitas
inconsequências de Otelo
16,35 horas - a emissão Telescola, a ser transmitida pela RTP,
é interrompida e surge no écran o Capitão Duran Clemente que pretende apelar para que
as massas populares se mobilizem junto dos quartéis e estações da RTP, mas a
transmissão é desviada para os estúdios do Porto e os portugueses passam a
assistir ao filme de Frank Tashlin O Homem do Diners Club com Danny Kaye.
16,30 horas -Costa
Gomes decreta o estado de emergência na Região de Lisboa.
Posteriormente
é decretado o estado de sítio parcial na Região de Lisboa e a suspensão da
publicação da imprensa escrita.
22,00 horas - a
emissão do Rádio Clube Português é silenciada e a Emissora Nacional, a
transmitir dos estúdios do Porto, fica sob o controlo do CEMGA.
Do livro Abril
nos Quartéis de Novembro:
A Calma, o saber esperar, adicionados à capacidade de
provocar o adversário, terão sido os aspectos que mais contaram para a vitória
dos “Nove”, que, à partida, não eram a força melhor colocada em termos
militares na cidade de Lisboa. Tais capacidades são especialmente demonstradas
no próprio dia 25, quando evitam actuar sem a cobertura de Costa Gomes.
Esperaram que ele tentasse resolver o problema por outros meios, ao mesmo tempo
que o iam pressionando, demonstrando a urgência de passara à acção. Em verta
altura argumentam que não se pode deixar cair a noite para agir e que tudo está
por fazer. (3)
Costa Gomes toma
o comando directo das Forças Armadas, e as unidades de Lisboa são informadas de
que além dele também recebem ordens de Vasco Lourenço, que Costa Gomes nomeia
como seu adjunto, e mais tarde juntará o nome de Ramalho Eanes à cadeia de
comando.
José Gomes Mota
no seu livro A Resistência:
Tudo se passava, portanto, segundo os nossos planos,
ou seja, Vasco Lourenço chefiava o Movimento e Ramalho Eanes dirigia o Grupo
Militar.
Em seguimento à proclamação do estado de sítio
parcial, na área da região de Lisboa, o Estado Maior das Forças Armadas difunde
uma nota oficiosa em que se informa a população de que foi determinado o
recolher obrigatório no período que se estende das zero às seis horas da manhã,
e em que, também, alerta para o facto a rádio e a televisão não poderem emitir
comunicados dos partidos políticos, apenas comunicados oficiais.
Simone Beauvoir,
algures no tempo:
O mais terrível dos sentimentos é o de ter a esperança
perdida.
José Gomes
Ferreira no seu livro Intervenção Sonâmbula:
Estamos no fim da Revolução. E porventura não tardará
aí o inferno que ninguém quer.
Fontes:
- Acervo pessoal.
Fontes:
- Acervo pessoal.
(1) – Sobreao Golpes Contra-Revolucionários de 11 de Março e de 25 de Novembro de 1975 –
Varela Gomes, edição do autor, Lisboa s/d
(2) - Ascensão,
Apogeu e Queda do M.F.A. 2º volume, Edição do Autor, Lisboa s/d
(3) - Abril
nos Quartéis de Novembro – Avelino Rodrigues, Cesário Borga, Mário
Cardoso, Livraria Bertrand, Junho 1979
(4) - A Resistência – José Gomes Mota, Edições Jornal Expresso, Lisboa, Junho
1976
1 comentário:
Vivi tudo isto no Forte do Alto do Duque. Era o oficial de dia-adjunto.
LPA
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