24 de Novembro
de 1975
É tal o
emaranhado de acontecimentos, decisões e contra decisões, afirmações e
desmentidos das mesmas, uma avalanche de opiniões, palavras de ordem, que se
torna, particularmente, difícil, em pouco espaço, dar a conhecer tudo o que vai
acontecendo nos dias que correm.
Uma coisa é
certa: mais do que nunca, cheira a golpe, venha ele de onde vier.
Ontem, na
Alameda D. Afonso Henriques, em Lisboa, para o mesmo local de há quatro meses
antes, o Partido Socialista organizou um comício com a presença de milhares de
pessoas.
O Presidente
Costa Gomes foi fortemente criticado, enquanto é manifestado inequívoco apoio a
Pires Veloso e Jaime Neves, ao VI Governo Provisório
À volta de armas
e canetas o jornalista do vespertino, Carlos Benigno da Cruz, tece o seguinte
comentário:
Numa entrevista
ao Nouvel Observateur, Melo Antunes assume que o país caminha para uma
guerra civil que, a não ser evitada, nos conduzirá a um outro fascismo
O Jornal Novo
transcreve largos extractos da entrevista e, para título, arrastou estas
palavras:
Os extractos têm
estas palavras de abertura:
Por entre a balbúrdia de opiniões, e as tomadas de
posição desconexas e contraditórias a que temos vindo a assistir nos últimos
tempos, ergue-se uma voz de bom-senso – a do Major Melo Antunes.
Numa entrevista que hoje sairá a público no “Nouvel
Obaervateur”, o ministro dos Negócios Estrangeiros faz uma análise da actual
situação política portuguesa e aponta caminhos – que, a serem seguidos, talvez
ainda possam salvar este país da derrocada.
Ao jornal
coimbrão “Domingo”, o brigadeiro Franco Charais dá uma entrevista em que
a bota bate com a perdigota, e levanta
um ponta do nebuloso véu que cerca o país:
Estou convencido que a muito curto prazo vamos ter uma
clarificação do processo político português. Clarificação que nem de longe
passará por armas nem por confrontações físicas, mas apenas por procedimentos
políticos.
O jornalista, no
findar da entrevista, pergunta:
- Está preocupado?
- Não. Estou
mais optimista.
Entretanto, Jaime
Neves passeia-se, por Lisboa, em Chaimite.
Neste mesmo dia
o Conselho da Revolução reúne-se para, em definitivo, resolver a nomeação de
Vasco Lourenço como comandante da Região Militar de Lisboa.
No seu habitual Apontamento,
na 1ª página do Diário de Notícias, José Saramago lembra: Hoje há
Conselho:
Num plenário que
reúne milhares de agricultores em Rio Maior, é aprovado o saneamento do
secretário de estado da Reestruturação Agrária (António Bica do PCP) e de todos
os técnicos do IRA de Santarém. Enquanto uma comissão eleita no plenário se
desloca ao Conselho da Revolução os agricultores erguem barricadas que
bloqueiam completamente os acessos a Lisboa.
Aproxima-se a
madrugada em que Novembro entrará portas dentro dos quarteis de Abril.
Fontes:
- Acervo pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira.
- A Resistência de
José Gomes Mota
- Portugal Depois de
Abril de Avelino Rodrigues, Cesário Borga, Mário Cardoso.
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