Chiquinho
Baltasar Lopes
Capa: António Domingues
Prelo Editora, Lisboa, 1961
- Estou a lembrar de que o tempo está muito parecido com a seca de
noventa e seis.
Nhô António Benvinda aventurava-se a ir mondar o seu milhinho murcho na
Chã.
- Você é de coragem, criatura, aquilo agora não deve servir senão para
palha.
- Sem remédio… Não tenho outro recurso. Quando Nossenhor quer, dá milho
de riba de pedra…
- Deus quase esqueceu de nós…
- Cale a boca, homem sem fé! Fé em Deus é que salva a criatura.
- E se fé em Deus não nos der chuva?
- Destino, homem…
Chico Zepa revoltou-se:
- Qual destino, velho! Destino é cair de rocha…
- Destino não é só cair de rocha. Trazemos o nosso destino desde que
abrimos os olhos ao Sol.
- Não acredito. Nós é que fazemos o nosso destino consoante o que
pensarmos na nossa cabeça…
- Então se é assim, por que é que tu, que pensas em embarcar outra vez,
não embarcaste ainda? Queres mas destino não deixa…
~Deixará, velho… Não acabo apodrecendo aqui. Se for preciso, brigarei
com o destino.
- Deus não deixou isto à criatura. Só uma pessoa venceu o destino:
Totone Menga Menga…
- Explique como Totone venceu o destino…
- Ninguém sabe, Chico.
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