sábado, 31 de maio de 2014

OS IDOS DE MAIO DE 1974

27 a 31 de Maio

NO PALÁCIO Foz um grupo representativo do Movimento Democrático de Artistas Plásticos, cobriu com um pano negro a estátua de Salazar que se encontra nos jardins do palácio. Esse gesto foi considerado como «um acto de criação artística», pois «a arte fascista faz mal à vista.»

APÓS duas semanas de greve parece iminente a falência da Fábrica de Malhas Simões de Benfica.

A CÂMARA Municipal de Mação recusou-se a pagar o dia 1 de Maio aos seus trabalhadores eventuais.

LISBOA e arredores estão sem pão. Os trabalhadores da Panificação afirmam que foram forçados à greve.

NA NAZARÉ os pescadores continuam a lutar em terra pelo pão. A situação arrasta-se desde o dia 12 do corrente mês e ainda não foram revistos os respectivos acordos de trabalho.

ANTÓNIO Spínola ao chegar ao Porto e falando á multidão que o aguardava: «as ideias democráticas e de liberdade estão sendo criminosamente minadas por forças que visam a destruição e a anarquia.»

DADA a campanha de pressão e intimidação levada a cabo por alguns postos de abastecimento de gasolina e gasóleo do distrito de Lisboa, o Ministério da Coordenação Económica esclarece que se tal for necessário os postos de gasolina serão controlados pelas autoridades militares.

 OS TRABALHADORES da empresa da Companhia das Águas de Lisboa deliberaram apresentar como exigência a reivindicação a nacionalização imediata daquela companhia e requerer um rigoroso inquérito aos actos da administração.

SEGUNDO informação das Forças Armadas ainda não se entregaram às autoridades oito elementos da extinta PIDE/DGS.

SILVA PAIS continua a dizer que desconhecia os processos usados pela PIDE e apenas cumpria ordens.

FIXADA em 1.600$00 a pensão mínima de invalidez. Abono de família passa a 240$00
Reajustado o pré dos praças (de 30$00 para 250$00).

FORAM empossados, pelo Presidente da República, os membros do Conselho de Estado:


Do discurso, pronunciado por Spínola, no acto de posse dos conselheiros de Estado: «É tempo de cada português saber distinguir entre programas políticos e amontoados de bem orquestrados slogans demagógicos».

A INTERSINDICAL divulga um comunicado onde constata com apreensão a acção desordenada e anárquica de certos elementos oportunistas e reaccionários que tentam arrastar os trabalhadores através de greves que no momento presente não servem os interesses dos trabalhadores.

ANTÓNIO Spínola em Coimbra, falando à multidão que o aguardava: «para reivindicar é preciso primeiro edificar» e «não se poderá distribuir riqueza sem a produzir».

COMEÇOU a publicar-se o jornal Revolução porta-voz do Partido Revolucionário do Proletariado – Brigadas Revolucionárias.

DE A FUNDA de Artur Portela Filho:
Estão os católicos portugueses dispostos a permitir que a Igreja portuguesa passe, de paramentos e bagagens, pressurosa, subtil, intacta, da Ditadura para a Democracia?
Estão os católicos portugueses dispostos a permitir que a hierarquia da igreja portuguesa salte, do barco que se afunda, para o barco que zarpa, sem molhar, sequer, a ponta da sotaina?
Estão os católicos portugueses dispostos a permitir que todos quanto diziam, no dia 24 de Abril, que o sr. Bispo do Porto e o sr. Bispo de Nampula eram as ovelhas negras de um rebanho branco digam, no dia 26 de Abril, que o rebanho sempre foi todo, mas todo, negro?
Nem todos os católicos estão
Dispostos a.
Permitir.

Fontes: Recortes de acervo pessoal, Diário de Uma Revolução, Mil Dias Editora, Lisboa, Janeiro de 1978, Maio de 74 Dia a Dia, Edição de Teorema e Abril em Maio, Lisboa, Maio de 2001, Portugal Hoje edição da Secretaria de Estado da Informação e Turismo, A Funda, Artur Portela Filho, Editora Arcádia, Lisboa

Sem comentários: