Chamavas-te Catarina? Ou foi a sina
De nomear o mito e dar um rosto à História
Que fez nascer em nós teu nome de menina
Como barco sulcando as águas da memória?
E será que morreste? Ou por termos medo
Da nossa própria morte mais à frente certa
Criámos em surdina as balas do segredo
Que foi bordado a fogo na tua saia aberta?
Mas o nome qu’importa? A hora? O mês?
Em cada morte nossa morres outra vez
E colam outro nome à pedra em que te fito.
E mesmo a morte passa. A nossa e a tua.
Quando chegam as aves apenas flutua
Um lenço onde se acende o teu perfil de grito.
Manuel Alberto Valente em 10 Poemas para Catarina,
O Oiro do Dia, Porto, Maio de 1981.
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