De 1 a 5 de Maio de
1974
Aquele primeiro 1º de Maio…
As ruas cheias de gente, homens e mulheres a chorarem, a
abraçarem-se, que se chamaram «tu» sem se conhecerem de parte alguma, sonhos buliçosos,
uma autêntica nave de loucos, fim de um tempo abjecto, desesperado, os nossos
os jovens a morrerem numa guerra inglória – felizmente que a tropa há-de torná-lo um homem, António Lobo
Antunes em Os Cus de Judas.
Não acreditem no que as fotografais dos jornais, os registos
dos filmes mostram.
Foi muito do que aquilo que vos é mostrado.
Sabemos, hoje, que esses dias foram de uma perenidade
violenta, esperanças frustradas, desilusões, esforços, muitos esforços mas que,
pequenos que sejam., eram resultados.
Roubar a alguém o sonho duma vida inteira é pior, e mais
imperdoável, do que privá-lo do pão que lhe é devido.
A festa do 1º de
Maio de 1974, em que milhares e milhares de pessoas vieram para a luz do mundo
forra de carne humana e cores livres de bandeiras, os prédios, o céu, o vento,
o pesadelo morto. Momento que já principia a parecer um sonho, talvez apenas
possível de descrever com a tinta mágica das lágrimas que todos nós trouxemos
para a rua nessa tarde tão generosa e inocente.
Mas oxalá essas lágrimas do povo não tenham um dia de gelar até à dureza de balas viris – mutação a que eu também já assisti em ocasiões terríveis de terramotos implacáveis.
Mas oxalá essas lágrimas do povo não tenham um dia de gelar até à dureza de balas viris – mutação a que eu também já assisti em ocasiões terríveis de terramotos implacáveis.
VINDOS do exílio em Argel, chegam a Lisboa Fernando Piteira Santos e Manuel Alegre. Manuel Alegre na Praça da Canção tem um poema: Nós Voltaremos sempre em Maio:
Amanhã não estaremos já neste lugar
amanhã a cidade já não terá o teu rosto
e a canção não virá cheia de ti
escrever em cada árvore o teu nome verde.
Amanhã outros passarão onde passámos
farão os mesmos gestos dirão as mesmas palavras
dirão um nome baixo um nome loucamente
como quem sobre a morte é por instantes eterno.
Amanhã a cidade terá outro rosto.
Nós não estaremos cá. Mas a cidade
já não será contra o amor amanhã quando
os amantes passarem na cidade livre.
Nós não estaremos cá. Voltaremos em Maio
quando a cidade se vestir de namorados
e a liberdade for o rosto da cidade nós
que também fomos jovens e por ela e por eles
amámos e lutámos e morremos
nós voltaremos meu amor nós voltaremos sempre
no mês de Maio que é o mês da liberdade
no mês de Maio que é o mês dos namorados.
OS EXILADOS políticos poderão, logo que entenderem, regressar a Portugal e com o pleno exercício dos seus direitos.
amanhã a cidade já não terá o teu rosto
e a canção não virá cheia de ti
escrever em cada árvore o teu nome verde.
Amanhã outros passarão onde passámos
farão os mesmos gestos dirão as mesmas palavras
dirão um nome baixo um nome loucamente
como quem sobre a morte é por instantes eterno.
Amanhã a cidade terá outro rosto.
Nós não estaremos cá. Mas a cidade
já não será contra o amor amanhã quando
os amantes passarem na cidade livre.
Nós não estaremos cá. Voltaremos em Maio
quando a cidade se vestir de namorados
e a liberdade for o rosto da cidade nós
que também fomos jovens e por ela e por eles
amámos e lutámos e morremos
nós voltaremos meu amor nós voltaremos sempre
no mês de Maio que é o mês da liberdade
no mês de Maio que é o mês dos namorados.
OS EXILADOS políticos poderão, logo que entenderem, regressar a Portugal e com o pleno exercício dos seus direitos.
A VIOLAÇÃO da correspondência era feita por acção directa da
PIDE/DGS
e não pelos trabalhadores dos CTT.
O SINDICATO dos Escritórios denuncia que há patrões que não
querem pagar o 25 de Abril aos trabalhadores e chegaram a despedir
trabalhadores que faltaram nesse dia.
A RÁDIO Renascença é ocupada pelos trabalhadores com uma
nova administração eleita, depois de a anterior administração ter censurado as
reportagens da chegada a Lisboa de Mário Soares e Álvaro Cunhal e dos cantores
Luís Cilia e José Mário Branco.
AOS POUCOS os jornalistas vão demitindo as direcções e
conselhos de administração dos diversos órgãos de informação, colocando nos
seus lugares jornalistas e pessoas que estejam com o espírito de Abril.
Eduardo Valente da Fonseca publica no República uma Carta
Aberta a alguns jornalistas:
Vocês que bajularam ministros, presidentes das câmaras, governadores
civis, figuras proeminentes da política e da finança, vocês que se bateram à miseranda
cartinha com uma gratificação dentro para tecerem toda a espécie de falsos
elogios e louvores, que enriqueceram ou passaram a levar um estilo de vida que
o vosso magro ordenado não comportava, que se puseram sempre do lado das
autoridades contra os trabalhadores e os estudantes, vocês que sob o estado
repressivo de Salazar e Marcelo nunca apareceram publicamente a manifestar o
vosso desacordo, vocês não são dignos de escrever para um Povo que só agora se
apressam a vir dizer que respeitam, e não são dignos de serem lidos por um
leitor novo, que começa a despertar para ajudar o verdadeiro jornalista a
construir com ele um outro país, uma nova relação humana sem censura nem
camaleonismo. Desistam e reformem-se que o Povo, a Cultura e o Jornalismo
agradecem.
O ESCUDO subiu em Nova Iorque, também em Londres, o que é
inédito numa revolução.
ANÙNCIO no Diário de Notícias de 3 de Maio de
1974, um político libertado procura emprego:
A DIRECÇÂO do Teatro Nacional de S. Carlos decidiu a
abolição da obrigatoriedade do uso de traje de rigor que se mantinha para os
espectáculos de estreia. Aguarda-se uma nova política de preços.
DEIXAM de publicar-se dois jornais que apoiavam o antigo regime:
Novidades
e Debate.
Diariamente os jornais vão publicando numerosos desmentidos
de pessoas das quais se diz que eram informadores da PIDE/DGS: fulano
de tal vem por este meio comunicar que jamais pertenceu aos quadros da PIDE/DGS,
ou a ela esteve ligado, conforme documento passado pela Junta de Salvação
Nacional.
A RÚSSIA passa a ser incluída na programação de cruzeiros
promovidos pela Agência Marítima Transatlântica.
O PAIGC rejeita a autodeterminação de Spínola.
O EX- MINISTÉRIO das Corporações passa a denominar-se
Ministério do Trabalho.
FRANCISCO Pinto Balsemão pretende fundar um partido de centro-esquerda.
CHEGAM do exílio no Brasil, Ruy Luís Gomes e José Morgado.
A JUNTA de Salvação Nacional desmente a prisão de Amália
Rodrigues.
O PARLAMENTO Europeu regozija-se com os acontecimentos que
se verificaram em Portugal.
Decretada a amnistia a refractários e desertores das Forças
Armadas.
MANIFESTAÇÃO do MRPP impede no Aeroporto o embarque de soldados
para as colónias: Regresso imediato dos Soldados! Nem mais um militara para as colónias!
FORAM em vão as diversas tentativas que o jornal Época
fez para que o jornal passasse de intransigente defensor do antigo regime a
apoiante do espírito de Abril.
Passou de Época a A Época, depois A
Época Livre.
REGRESSO do Capitão Sarmento Pimentel do seu exílio no
Brasil.
1º ENCONTRO Livre da Canção, transmitido pela Emissora
Nacional, no Pavilhão de Desportos do Porto. Participação, entre outros, de
José Afonso, José Mário Branco, Sérgio Godinho. Adriano Correia de Oliveira,
Fausto, Luis Cilia, Manuel Freire.
MÁRIO Soares em Bruxelas: o perigo comunista não existe em
Portugal. Não vai instalar-se em Lisboa um governo popular mas de Salvação Nacional.
Fontes: Recortes
de acervo pessoal, Diário de Uma Revolução, Mil Dias Editora, Lisboa, Janeiro de
1978, Maio de 74 Dia a Dia, Edição de Teorema e Abril em Maio,
Lisboa, Maio de 2001, Portugal Hoje edição da Secretaria
de Estado da Informação e Turismo, A
Funda,
Artur Portela Filho, Editora Arcádia, Lisboa
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