Jesus fez o milagre da multiplicação dos portugueses. Numa equipa que
joga tão bem e só com aquele pequeno defeito de poucos nascidos na Maternidade
Alfredo da Costa, Jorge Jesus fez alinhar André Gomes, Rúben Amorim, André
Almeida, Ivan Cavaleiro... Contem os nomes: oito portugueses, quase toda a
equipa. E ainda havia dois tipos com aquela mania tão nossa de que são o máximo
(e são): Luisão e Maxi. E mais o Lima, nome de família vinda das margens do rio
tão cantado por trovadores. E um Gaitán raro, talvez dos gaiteiros de Miranda,
um Rodrigo medieval e Cardoso, dos Cardosos, só na minha pequena rua há três.
Gente nossa, jogando à portuguesa, com jeito para burilar e alma até Almeida. É
do futebol assim que gosto, de artistas e perdulários. No entanto, ontem era
data redonda, 10 finais. Havia que cumprir um desígnio e esse era mostrar ao
mundo que uma maldição nos perseguia. Podíamos ter feito cinco, sete golos mas,
lá está, erguíamos a taça e recebíamos sorrisos mordazes: "Com que então,
maldição..." Teria sido mais fácil, houve bolas que até o Postiga marcava,
mas a equipa sujeitou-se ao que ali nos levou: expor de forma categórica que só
não ganhamos por enguiço. Cumprimos a meta, como se diz nas Finanças quando
saímos a perder. Pobretes mas alegretes, e digo-vos sem ironia: este é o meu
Benfica. Futebol é qualidade e emoção e se a isso se juntar uma dimensão
cósmica, sobretudo adversa, sinto-me recompensado.
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