Sem que o tivéssemos podido alguma vez suspeitar, Cole
Porter interessava-se pelo Benfica. E muito…
Conhecida a flexibilidade com que o autor de “Begin
the Beguine” geria as suas relações amorosas, muitas vezes nos
interrogámos acerca da origem e da natureza desse Amor que tanto perfuma as
suas canções.
Seria um Ele…? Seria uma Ela…? Seria um qualquer
Ideal imaterial e assexuado…?
Pois bem, uma equipa de investigadores do Departamento de
Musicologia da Universidade de Nashville, nos Estados Unidos, acaba de
nos trazer a surpreendente resposta: muitas dessas magníficas canções de
Porter foram dedicadas…… ao Benfica!
Na verdade e à época, eram já de há muito badaladas nos
Estados Unidos as frequentes escapadelas de Porter a Lisboa, e a
“beautifull people” de Park Avenue e de Beverly Hills comentava até, à
boca calada, que era um garanhão do Alto de Pina quem andava a
tratar dele…
Nada mais falso, descobriu-se agora…
Cole Porter deslocava-se a Lisboa, clandestinamente, para
ver os jogos do Benfica, clube pelo qual sentia uma devoção muito especial.
Segundo a referida equipa de investigadores, são inúmeras as
ligações que se podem estabelecer entre as letras das canções de Porter e
aquele a quem eles próprios chamam “The Glorious”…
“You’re the Top” é referência óbvia…
“In the Still of the Night” terá sido escrita
numa varanda virada para o Tejo, após mais uma inesquecível noite europeia
vivida por Porter, “so in love”, no Paraíso da 2ª Circular. E
aqui a lancinante pergunta
“do you love me, as I love you?”
não é mais do que a singela pergunta que o comum dos adeptos
tem vontade de colocar a si próprio: será que o meu clube gosta tanto de mim
como eu gosto dele…?
E quem é que suspeitaria que o conhecidíssimo trecho
“Night
and day,
You are
the one
Only you
beneath the moon
And
under the sun”
fosse, como os referidos investigadores garantem que
é, uma sentida declaração de Amor ao velho Estádio da Luz (“Light Stadium”, no
dizer dos americanos…), cuja grandiosidade Porter tanto admirava nos jogos
diurnos (as saudosas tardes de Domingo às 15h00…) como nos jogos à noite, às
21h45.
É sabido como estes estudiosos tendem para o exagero
quando começam a dar asas à sua imaginação… Até se atrevem a dizer, agora, que “Why
Can’t You Behave” é uma premonição daquilo que se iria passar, muitas
décadas depois, com Óscar Cardozo e Jorge Jesus, mas confesso-vos que esta já
me custa um bocadinho a engolir…
Já em relação a “Anything Goes” (que, para
quem não conheça a expressão, significa “vale tudo”), as certezas não são
muitas… Alguns elementos da Equipa de investigação sustentam que Porter
se referia à maneira como os defesas adversários se atiravam às canelas do
Eusébio, mas outros – talvez melhor informados…. - inclinam-se a ver aí sinais
da velha e sólida ligação existente entre o Benfica e as sucessivas
Comissões de Arbitragem…
Sensível às dificuldades do seu clube, Porter era,
naturalmente, conhecedor da “Maldição de Bela Guttmann”, na qual
acreditava piamente. Ele sabia que quanto maior fosse o voo maior
seria a queda e tentou, por isso, refrear as expectativas futuras dos seus
amigos benfiquistas, evitando que sofressem em demasia. Chamou-lhes,
carinhosamente, “tontinhos”, mas estes, cegos de paixão, nunca lhe
quiseram dar ouvidos:
“Don’t
you know little fools,
You
never can win
Why not
use your mentality
Step up
, wake up to reality”
Porter sabia muito bem que Paixão e lucidez raramente
caminham de mãos dadas e que, na verdade, é muito difícil a um
benfiquista encarar de frente a realidade se, para tal, tiver de fazer
calar a voz desse Benfica que ecoa, em permanência, dentro de si:
“But
each time I do just the thought of you
Makes me
stop, before I begin
‘Cause
I’ve got you under my skin”
Mas o que mais parecia atormentar Porter era o facto de ele
se sentir pessoalmente responsável por essa “Maldição”. De a ter provocado,
até, chamando-a a si… Ele jurava a pés juntos que Guttmann se tinha
inspirado numa passagem de ”You Do Something To Me”, uma das suas mais
célebres canções…
“Let me
live ‘neath your spell
Do do
that voodoo that you do so well”
A profunda convicção de Porter de que nunca mais se
haveria de assistir a nenhuma vitória do seu Benfica numa final
europeia ficou cimentada naquela fatídica noite de 25 de Maio em Wembley,
corria o ano de 1963. As diabrites de Altafini nessa noite
destroçaram o coração do pobre Porter, ele que até nem desgostava de
italianos… Não resistindo, caiu à cama pouco tempo depois, deixando-se morrer,
inconsolável, no ano seguinte.
E até há males que valem por bem, porque já não viu, uns
meses depois, Costa Pereira deixar passar a bola por entre as pernas em
Milão e, acima de tudo, o que o modesto Sevilha fez ao seu
Benfica em Turim, na desgraçada noite de ontem que tanto nos entristeceu…
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