Há 40 anos, no Tribunal da Boa-Hora, o juiz Acácio Lopes
Cardoso, mandava em paz Três-Marias de cravo ao peito.
Interrompido pelo 25 de Abril, o processo tinha em vista a
condenação de Maria Velho da Costa, Maria Teresa Horta, Maria Isabel Barreno, o
editor da Estúdios Cor, Romeu de Melo, por terem escrito e publicado um livro
pornográfico, imoral e obsceno, atentório da moral pública para além de muito
mal escrito.
Apreendido pela Pide em 1972, cinco dias depois de ter saído
para as livrarias, Novas Cartas Portuguesas é uma escrita a seis mãos, sem qualquer
regra pré determinada, mas em que nenhuma das autoras interferiria nos textos
de cada uma.
Um livro de coragem dentro do cinzentismo do Estado Novo.
As autoras nunca revelaram quem escreveu o quê.
Maria Teresa Horta já declarou que, muitas vezes, tem dúvidas
e pede ajuda às outras duas autoras.
Não será bem assim, mas que fique a lenda.
Elas baralharam e voltaram a dar.
Não deixa se ser um inteligente e divertido passatempo para
as noites de Inverno, tentar
descobrir o que escreveu Velho da Costa, Teresa Horta,
Isabel Barreno.
Ana Luísa Amaral que, em 1990 preparou para as Publicações
Dom Quixote, uma reedição das Novas Cartas Portuguesas, é de
opinião que o livro está muito além do seu tempo. Como as grandes obras normalmente
estão. Entendo que este livro é uma grande obra, é um grande livro dentro da
literatura portuguesa do século XX, dentro da história dos direitos humanos do
século XX.
Legenda: recorte do Diário de Lisboa de 8 de Maio de
1974.
A Terceira Carta IV é retirada da edição da Editorial
Futura, publicada em Maio de 1974.
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