Agora que a temporada futebolística, a nível nacional, terminou
e o Benfica venceu o Campeonato Nacional, a Taça da Liga, a Taça de Portugal, gostaria
de lembrar José Medeiros Ferreira que nos deixou no dia 18 de Março.
Partidariamente não navegávamos nas mesmas águas, mas era um
homem que me habituei a respeitar: um intenso e lúcido combatente contra a
ditadura e, numa outra vertente, era um benfiquista de quatro costados e muito
feliz teria ficado com as vitórias que o clube alcançou esta época.
José Medeiros Ferreira mantinha, desde 2010, um interessante
blog: Córtex Frontal.
Sentindo-se cada vez mais com a saúde fragilizada, escreveu
o seu último post no dia 9 de Fevereiro, e não esteve com meias medidas: o tema
escolhido foi o Benfica, naquela noite de vendaval que não permitiu a
realização do Benfica-Sporting.
Ainda há quem não entenda que o futebol é uma paixão que
nenhuma razão explica mas que ainda se espantam como determinados intelectuais
se colocam ao nível de um qualquer vulgar adepto.
José Medeiros Ferreira dizia que ser do Benfica era uma
maneira de estar na vida e, borrifando-se nos puristas, entendeu que o últimopost no blog teria de ser sobre o seu Benfica:
O novo inferno da Luz
Hoje o dia estava tão mau que não fui ao estádio da Luz para ver o
Benfica-Sporting. Em boa hora o fiz. Mesmo em casa com o apoio da televisão e
da rádio não consegui acompanhar o que se estava a passar em directo. Com a
UEFA presente, a a ausência de esclarecimentos da direcção do SLB, ainda
pensei que se tratava de um exercício ao vivo das autoridades de segurança da
PSP, da FPF, e da UEFA. as a bagunça foi um pouco amais além...
A falta que ficam a fazer homens como José Medeiros
Ferreira, senhor de uma lucidez impressionante, uma independência de espírito,
uma opinião clara como água, um mordaz sentido de humor, uma elevação intelectual
tão raro nos dias que correm, em que nos vemos rodeados por idiotas, aldrabões,
incompetentes, corruptos, incultos.
Numa entrevista ao I, talvez a sua última entrevista,
deixou bem expresso:
Em 1992 Portugal
teve a primeira presidência da União Europeia e, por essa razão e não por
qualquer raciocínio económico ou financeiro, resolveu aderir ao sistema
monetário europeu, cujas negociações a Grã-Bretanha tinha declinado. Portugal
avançou, mesmo aceitando uma taxa de câmbio que sobrevalorizava o escudo.
O governo de
Guterres até fez uma missa em Madrid e disse que sobre a pedra do euro - a
literatura evangélica é muito poderosa, tal como a pedra onde Pedro assentou a
Igreja - era aquela sobre a qual ia assentar a União Europeia. O euro foi uma
âncora continental para a Alemanha, depois da unificação, ficar amarrada à
União Europeia
Ainda ontem,
Ferreira do Amaral, afirmava na TVI:
A moeda é um instrumento essencial para se gerir a independência de um
país. Não teríamos tido problemas se o euro tivesse sido uma moeda normal e não
tivesse valorizado tanto. Mas foi criado para ser uma moeda forte.
Aquando do 3º
Congresso da Oposição Democrática, realizado em Aveiro no ano de 1973, José
Medeiros Ferreira encontrava-se no exílio, mas não deixou de colaborar e apresentou uma tese, Da Necessidadede um Plano para Nação, que foi lida por sua mulher.
A tese consta de um
livro, anos mais tarde, publicado pela Seara
Nova e as conclusões podem ser lidas neste nosso Olhar as Capas.
Nunca reclamou para
si que a sua tese terá influenciado os capitães de Abril, mas há quem defenda
que boa parte desse texto foi fonte de inspiração para o Programa do MFA.
Legenda: imagem do Correio da Manhã
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