terça-feira, 20 de maio de 2014

JOSÉ MEDEIROS FERREIRA


Agora que a temporada futebolística, a nível nacional, terminou e o Benfica venceu o Campeonato Nacional, a Taça da Liga, a Taça de Portugal, gostaria de lembrar José Medeiros Ferreira que nos deixou no dia 18 de Março.

Partidariamente não navegávamos nas mesmas águas, mas era um homem que me habituei a respeitar: um intenso e lúcido combatente contra a ditadura e, numa outra vertente, era um benfiquista de quatro costados e muito feliz teria ficado com as vitórias que o clube alcançou esta época.

José Medeiros Ferreira mantinha, desde 2010, um interessante blog: Córtex Frontal.
Sentindo-se cada vez mais com a saúde fragilizada, escreveu o seu último post no dia 9 de Fevereiro, e não esteve com meias medidas: o tema escolhido foi o Benfica, naquela noite de vendaval que não permitiu a realização do Benfica-Sporting.

Ainda há quem não entenda que o futebol é uma paixão que nenhuma razão explica mas que ainda se espantam como determinados intelectuais se colocam ao nível de um qualquer vulgar adepto.

José Medeiros Ferreira dizia que ser do Benfica era uma maneira de estar na vida e, borrifando-se nos puristas, entendeu que o últimopost no blog teria de ser sobre o seu Benfica:

O novo inferno da Luz

Hoje o dia estava tão mau que não fui ao estádio da Luz para ver o Benfica-Sporting. Em boa hora o fiz. Mesmo em casa com o apoio da televisão e da rádio não consegui acompanhar o que se estava a passar em directo. Com a UEFA  presente, a a ausência de esclarecimentos da direcção do SLB, ainda pensei que se tratava de um exercício ao vivo das autoridades de segurança da PSP, da FPF, e da UEFA. as a bagunça foi um pouco amais além...

A falta que ficam a fazer homens como José Medeiros Ferreira, senhor de uma lucidez impressionante, uma independência de espírito, uma opinião clara como água, um mordaz sentido de humor, uma elevação intelectual tão raro nos dias que correm, em que nos vemos rodeados por idiotas, aldrabões, incompetentes, corruptos, incultos.

Numa entrevista ao I, talvez a sua última entrevista, deixou bem expresso:

Em 1992 Portugal teve a primeira presidência da União Europeia e, por essa razão e não por qualquer raciocínio económico ou financeiro, resolveu aderir ao sistema monetário europeu, cujas negociações a Grã-Bretanha tinha declinado. Portugal avançou, mesmo aceitando uma taxa de câmbio que sobrevalorizava o escudo.
O governo de Guterres até fez uma missa em Madrid e disse que sobre a pedra do euro - a literatura evangélica é muito poderosa, tal como a pedra onde Pedro assentou a Igreja - era aquela sobre a qual ia assentar a União Europeia. O euro foi uma âncora continental para a Alemanha, depois da unificação, ficar amarrada à União Europeia

Ainda ontem, Ferreira do Amaral, afirmava na TVI:

A moeda é um instrumento essencial para se gerir a independência de um país. Não teríamos tido problemas se o euro tivesse sido uma moeda normal e não tivesse valorizado tanto. Mas foi criado para ser uma moeda forte.

Aquando do 3º Congresso da Oposição Democrática, realizado em Aveiro no ano de 1973, José Medeiros Ferreira encontrava-se no exílio, mas não deixou de colaborar e apresentou uma tese, Da Necessidadede um Plano para Nação, que foi lida por sua mulher.

A tese consta de um livro, anos mais tarde, publicado pela Seara Nova e as conclusões podem ser lidas neste nosso Olhar as Capas.

Nunca reclamou para si que a sua tese terá influenciado os capitães de Abril, mas há quem defenda que boa parte desse texto foi fonte de inspiração para o Programa do MFA.

Sobre este tema, é interessante um outro olhar, que Vitor Dias publicou no seu Tempo das Cerejas.

Legenda: imagem do Correio da Manhã

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