…Ontem, ao ouvir
as buzinadelas, pensava em quantos adeptos deste ou de outro clube, loucos de
alegria pelo resultado de um jogo que em nada modificaria a sua vida, estariam
dispostos a sair à rua para defender o aumento do salário mínimo, o aumento das
pensões, o fim das propinas ou o pleno emprego. Quantas dessas pessoas seriam
capazes de vir para as ruas exigir o fim da pobreza? Quantas dessas
pessoas viriam para a rua indignadas pelos milhares de crianças que passam
fome? Quantas dessas pessoas viriam para a rua exigir um combate eficaz à
corrupção e uma justiça igual para todos? Quantas viriam defender uma escola
pública de qualidade? Quantas destas pessoas virão para a rua no 25 de Abril
gritar que não esquecemos a liberdade? Quantas dessas pessoas irão votar nas
eleições europeias? Quantas irão votar nas legislativas? E quantas irão votar
nos mesmos que hoje os condenam a eles à pobreza e os seus filhos à
ignorância? Para que lhes serve este feroz orgulho de grupo e esta embriaguez
selvagem da vitória se, nos momentos que importam realmente, irão baixar o pescoço
onde se irá pousar a canga?
José Vitor Malheiros no Público
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