terça-feira, 27 de maio de 2014

OS IDOS DE MAIO DE 1974


20 a 26 de Maio

POR DECISÃO da Junta de Salvação Nacional o almirante Américo Tomás e o prof. Marcelo Caetano, deixaram o Funchal com destino ao Brasil. A presidência do Brasil recebeu-os como exilados políticos na condição de se absterem de qualquer actividade política no país
O Diário de Lisboa, de 22 de Maio de 1974, escrevia no seu editorial:
A partida para o Brasil de Américo Tomás e de Marcelo Caetano indigna todos os antifascistas, todo o povo português. Esperava-se o seu julgamento e o julgamento dos outros responsáveis pela política antinacional. Não por desejo de vingança, mas por imperativo de justiça.

A INTERSINDICAL aconselha um ambiente de calma em relação ao actual clima de agitação no trabalho. Desaconselha o recurso á greve, bem como certas reivindicações salariais que podem provocar o caos económico.

ACABARAM as aulas ao sábado.

O SALÁRIO mínimo para os trabalhadores foi fixado em 3.300$00, exceptuando trabalhadores rurais e empregados domésticos. Congelados salários acima de 7.500$00.

PROSSEGUE a greve dos 1600 trabalhadores da Messa, em Mem Martins.

OS TRABALHADORES da Firestone retomaram o trabalho para não lesar os interesses da economia nacional.

OS TRABALHADORES da empresa Claras decidiram deixar de cobrar bilhetes.

NO SENTIDO da revisão da Concordata vai realizar-se uma reunião da Comissão Organizadora do Movimento Ptó-Divórcio.

DA LISTA divulgada pelas autoridades sabe-se estarem em liberdade doze elementos da extinta PIDE/DGS. Neste número estão Agostinho Barbieri Cardososo e António Rosa Casaco.

PALAVRAS do bispo do Porto D. António Ferreira Gomes: «Melhor seria que os cristãos se autocriticassem e que todos chegassem à conclusão de que de uma maneira ou de outra pelo menos por indiferença somos culpados da situação anterior a 25 de Abril.»

NO DIA 25 iniciaram-se em Londres, negociações com o PAIGC. Mário Soares, ministro dos Negócios Estrangeiros, chefia a comitiva portuguesa.

CRIADA a Associação dos Deficientes das Forças Armadas.

ANÚNCIO de Francisco Relógio: «Combata a inflação investindo em obras de arte.»

NATÁLIA Nunes, na Livraria Opinião distribui 50 exemplares da sua peça Cabeça de Abóbora que Luzia Maria Martins tinha tentado levar à cena, mas que não tinha conseguido devido aos cortes da censura.

FUNDAÇÃO do PPM.

APRESENTAÇÃO do Partido da Democracia Cristã.

A CÂMARA Municipal de Lisboa anuncia que deixará de ser efectuada, aos domingos, a remoção de lixos.

HOMENAGEM a Fernando Lopes Graça no Coliseu dos Recreios com o Coro da Academia dos Amadores de Música – Depois do medo e do silêncio.

O Movimento Socialista Popular, dirigido por Manuel Serra, decidiu integrar-se como movimento autónomo no Partido Socialista Português.

O MINISTRO da Coordenação Económica declarou a uma televisão espanhola que Portugal não pedirá imediatamente a sua adesão ao Mercado Comum devido ao seu atraso económico.

DE UMA FUNDA de Artur Portela Filho:
A liberdade não censura a ineficácia. Expõe-na. O que, sendo alguma coisa, não chega para neutralizar a ineficácia. A ineficácia é livre. Ser ineficaz é um direito.
Só que a revolução exige eficácia.
Aí está porque é que na actualidade portuguesa, a acultura tem de ser mobilizada, mas nem toda a cultura deve ser mobilizada. Aí está porque é que, na actualidade portuguesa, os meios de informação têm de servir, mas nem toda a informação serve. Nem todas as boas vontades são vontades boas. Nem todas as adesões aderem. Nem toda a cola cola.
A eficácia é, hoje em dia, em Portugal, um caso de vida ou de morte.


Fontes: Recortes de acervo pessoal, Diário de Uma Revolução, Mil Dias Editora, Lisboa, Janeiro de 1978, Maio de 74 Dia a Dia, Edição de Teorema e Abril em Maio, Lisboa, Maio de 2001, Portugal Hoje edição da Secretaria de Estado da Informação e Turismo, A Funda, Artur Portela Filho, Editora Arcádia, Lisboa

Legenda: pormenor da reportagem sobre o concerto de Fernando Lopes Graça publicada no Diário Popular de 26 de maio de 1974.

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