domingo, 18 de maio de 2014

OS IDOS DE MAIO DE 1974


De 6 a 12 de Maio de 1974

NO DIA 6 de Maio é fundado o Partido Popular Democrata (PPD).
Na comissão organizadora estão Francisco Pinto Balsemão, Joaquim Magalhães Mota e Francisco Sá Carneiro que será o secretário-geral.
O PPD é um partido voltado para o progresso social e aberto à esquerda não marxista. São justos e equilibrados os caminhos da Social-Democracia.

MIGUEL TORGA, no dia 6 de Maio escreve no seu Diário:
Continua a revolução, e todos se apressam a assinar o ponto.
- O senhor não diz nada? – Interpelou-me há pouco despudoradamente, um dos novos prosélitos.
E fiquei sem fala diante da irresponsabilidade de semelhante pergunta. Foi como se me tivessem feito engolir, cinquenta anos de protesto

VASCO Vieira de Almeida, delegado da Junta de Salvação Nacional, no Ministério das Finanças, esclareceu que as deliberações adoptadas pelo MFA apenas visaram impedir acções especulativas a todos os níveis, fugas da massa monetária e reprimir subidas abusivas de preços. Informou também que o mercado da bolsa continuará encerrado e da reabertura dará, quando tomar posse o Governo Provisório.

COMEÇOU a funcionar a sede provisória do Partido Comunista Português na Rua António Serpa, onde funcionava o comando 4 da extinta Legião Portuguesa.

CERCA de 50 000 pessoas participaram num comício organizado por um movimento político criado pela população branca de Moçambique FICO-Frente Independente de Solidariedade Ocidental. Os seus dirigentes manifestaram o seu inteiro apoio ao general António Spínola e tencionam conduzir uma campanha contra o abandono dos territórios africanos por parte de Portugal.

JORGE Paulo Teixeira, director de informação e Propaganda do MPLA declarou em Argel: «Rejeitamos a ideia apresentada pelo general Spínola para um Estado Federal, porque é necessário ter em conta que somos entidades diferentes. Angola não é Portugal, como é a Guiné-Bissau, nem Moçambique. Recusamo-nos a ser considerados portugueses de pele negra».

MÁRIO Soares afirmou que o Partido Socialista não é um partido burguês e se tentará organizar sobre a base da classe operária, onde os representantes de outras classes terão igualmente lugar.

AGOSTINHO Neto, declarou em Copenhaga que o «general Spínola não disse em momento algum que seja aceitável para nós» e por essa razão «continuamos a lutar até que os portugueses decretem publicamente que temos, plenamente, direito á independência». Acrescentou ainda que «não percebe como é que Portugal se pode transformar num estado democrático, sem que os povos das colónias obtenham a sua independência».




O GRANDE Ditador, escrito, produzido e realizado por Charles Chaplin é finalmente exibido em Portugal na sua versão integral.

NUNO Calvet de Magalhães anuncia para breve o texto do programa do Partido Cristão Social-Democrata do qual é um dos fundadores.

ASCENDE a 560 contos o dinheiro apreendido pela extinta PIDE/DGS aos presos políticos.

OS FUNCIONÁRIOS da CARRIS dizem não ao boné. Após o Sindicato dos Motoristas ter decidido a abolição do uso do boné, é a vez dos cobradores aprovarem idêntica decisão.

DADO a empresa proprietária de O Século e os seus trabalhadores não terem chegado a acordo, aquele jornal não se aplica há três dias.
ÓSCAR Lopes foi nomeado pela Junta de Salvação Nacional para director da Faculdade de Letras da Universidade do Porto.

EM CONSEQUÊNCIA de desinteligências no seio do Partido Cristão Social-Democrata verificou-se uma cisão de que resultou o Partido da Democracia Cristã.

CHAMPALIMAUD elogia Spínola: espero que nunca mais voltemos aos tempos passados.

DUAS únicas apresentações do grupo espanhol AGUAVIVA no Monumental.

RELAÇÕES diplomáticas cum a URSS são um caso a estudar.

SEGUNDO Miller Guerra o PPD virá a ser um partido dominante pois o programa poderá ser facilmente aceite pela fracção burguesa a que o Movimento dos Capitães deu força e significação.

SITUAÇÃO tensa na Timex. A administração recusa receber os trabalhadores. Dois mil trabalhadores estão em greve.

MIL moradores de bairros da lata ocupam 23 blocos de Chelas, vazios há dois anos.

A INTERSINDICAL estuda transformar o A Época num jornal diário de trabalhadores.

Divulgado programa político do MES, Movimento de Esquerda Socialista.

VERGÍLIO Ferreira, no dia 10 de Maio, escreve no seu Conta-Corrente:
Seria útil dar o balanço de quinze dias de revolução. Mas tudo se mantém ainda confuso. No entanto, alguma coisa se vai esclarecendo: de um lado a ideia de que a revolução é para o interesse de cada um de nós, singularizado no esquecimento dos outros; do outro lado, a visível manifestação a todos os níveis, de núcleos comunistas. Seria uma revolução PC? Greves. Já começaram. Que não se propaguem em epidemia e ferem o caos. Para onde vamos? Por sobre tudo, uma certeza: os militares continuam de armas aperradas.


Fontes: Recortes de acervo pessoal, Diário de Uma Revolução, Mil Dias Editora, Lisboa, Janeiro de 1978, Maio de 74 Dia a Dia, Edição de Teorema e Abril em Maio, Lisboa, Maio de 2001, Portugal Hoje edição da Secretaria de Estado da Informação e Turismo,  A Funda, Artur Portela Filho, Editora Arcádia, Lisboa

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