sábado, 24 de maio de 2014

QUOTIDIANOS


O Portugal profundo, que ainda existe apesar da imensidão de autoestradas que se construíram, uma boa parte sem serem de primeira necessidade, desconhece que amanhã há eleições para o Parlamento Europeu.

E se ouviram alguma coisinha das patéticas campanhas dos partidos do arco da governação que a televisão e a rádio transmitiram, estão-se borrifando.

Eleições?

Europa?

O que é a Europa?

Aquela gente que nos pôs a pão e água?

Que se lixem!

Nas últimas eleições para o Parlamento Europeu, as de 2009, a abstenção cifrou-se nos 63%.

Há o receio que amanhã este número seja mais expressivo.

O trágico de tudo isto, é que amanhã não vamos escolher nada que possa dar uma volta à vida das gentes da Europa.

Naquelas cadeiras vai sentar-se uma rapaziada que escolhemos mas que não tem qualquer voto na futura política da Europa,
A política já está escolhida.
 Determinou-a Chanceler Angela Merkel e o seu companheiro de coligação governamental, a mando dos mercados ou o que lhe quiserem chamar.

Votar é um dever cívico, uma conquista pela qual muitos portugueses lutaram, uma boa parte dessa gente morreu nessa luta.

O 25 de Abril trouxe-nos o direito de votar, mas ninguém se preocupou em explicar ao povo, preto no branco, da importância de colocar um voto numa urna. Um povo que um ditador de botas obrigou à mais brutal ignorância, ao mais desesperado sofrimento.

Cada eleição devia ser uma possibilidade de abrir os olhos, rasgar horizontes, para que já não houvesse qualquer razão na frase de Miguel Torga que, volta e meia, coloco por aqui:

Que povo este! Fazem-lhe tudo, tiram-lhe tudo, negam-lhe tudo, e continua a ajoelhar-se quando passa a procissão.


Legenda: fotografia de Gérard Castello-Lopes

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