domingo, 2 de março de 2025

MÚSICA PELA MANHÃ


                                                   «Mãe, estou bem, estou só a esvair-me em sangue»

                                                    - de uma canção de Bob Dylan.

 

Parafraseando o monstro de cabelo alaranjado que ocupa a sala oval, poderíamos dizer:

«Os Estados Unidos nasceram para lixar o Mundo».

Este é um velho single, de tão rodado, nos tempos da ditadura salazarista/marcelista, teve de ser remendado com fita gomada.

Também é um disco da caminhada para o País de Abril.

Quando em Setembro de 1966 o Mário Castrim foi a Roma trouxe-me este disco. Porque vagamente tínhamos falado nisso, esperava que me trouxesse o cartaz de Férias em Roma, Filme de William Whiler, Audrey Hepburn a andar de vespa à pendura do Gregory Peck. Não sendo filme de cabeceira é um filme que estimo.

Mas o cartaz não veio. Chegou este grito contra a guerra do Vietnam, que viajou escondido no meio do saco da rua suja, com o Mário a pensar que os inspectores da Alfândega não iriam lá. Ingenuidades… Mandaram-no despejar o saco, mas não lhe apreenderam o disco.

No cinzento do nosso quotidiano sabíamos das manifestações de protesto que, por todo o mundo, se faziam contra a Guerra do Vietnam. Os anos de brasa da Paz, dos Direitos Humanos, da guerra do Vietnam.

Este disco assinala, em Roma, Março de 1966, uma dessas manifestações de protesto: “A chi chiama per la guerra, rispondiamo no”.

Dizia-se então: estamos todos em guerra contra os Estados Unidos da América.

Em Julho de 1980 Ronald Reagan disse: «O Vietnam não foi uma má experiência, o que foi mau foi termos perdido a guerra.»

Os números de uma guerra nunca são exactos, chega-se a eles às apalpadelas e nunca são definitivos:

- 3 milhões é o número de vietnamitas mortos, incluindo 2 milhões de civis.
- 60 mil americanos perderam a vida.
- as forças americanas utilizaram 15,35 milhões de toneladas de bombas
- foram gastos 220 mil milhões de dólares. Calcula-se que foram gastos 675 mil
dólares para exterminar um só guerrilheiro vietcong.

Lyndon Johnson nunca aceitou que uns quantos guerrilheiros comunistas pudessem vencer os Estados Unidos:

«A menos que os Estados Unidos disponham de um poderio aéreo incontestável, estamos sujeitos a qualquer anão amarelo que tenha um canivete».

O presidente Richard Nixon foi um político paranóico, vingativo, volútil, embebedava-se e amiúde batia na mulher. Foi este homem que chegou a considerar a opção nuclear para resolver a guerra do Vietname, como se pode ver neste diálogo, gravado na Casa Branca, com o secretário de estado Henry Kissinger:

Nixon – Mais valia usar a bomba atómica no Vietname.

Kissinger – Isso julgo seria ir longe demais.

Nixon – A bomba atómica perturba-o? Eu só quero que você pense em termos amplos. A única coisa em que nós discordamos é sobre os bombardeamentos. Você está preocupado com os civis e eu estou-me bem nas tintas. Não me interessa isso.

Kissinger – Preocupo-me com os civis porque não quero que o mundo se mobilize a acusá-lo de ser um carniceiro. Podemos ganhar a guerra sem matar civis.


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