«Mãe, estou
bem, estou só a esvair-me em sangue»
-
de uma canção de Bob Dylan.
Parafraseando
o monstro de cabelo alaranjado que ocupa a sala oval, poderíamos dizer:
«Os Estados Unidos nasceram para lixar o Mundo».
Este é um velho single, de tão rodado, nos tempos da ditadura salazarista/marcelista, teve de ser remendado com fita gomada.
Também é um disco da caminhada para o País de Abril.
Quando em Setembro de 1966 o Mário Castrim foi a Roma trouxe-me este disco.
Porque vagamente tínhamos falado nisso, esperava que me trouxesse o cartaz de Férias
em Roma, Filme de William Whiler, Audrey Hepburn a andar de vespa à pendura
do Gregory Peck. Não sendo filme de cabeceira é um filme que estimo.
Mas o cartaz não veio. Chegou este grito contra a guerra do Vietnam, que viajou
escondido no meio do saco da rua suja, com o Mário a pensar que os inspectores da Alfândega não iriam lá. Ingenuidades… Mandaram-no despejar o
saco, mas não lhe apreenderam o disco.
No cinzento do nosso quotidiano sabíamos das manifestações de protesto que, por
todo o mundo, se faziam contra a Guerra do Vietnam. Os anos de brasa da Paz,
dos Direitos Humanos, da guerra do Vietnam.
Este disco assinala, em Roma, Março de 1966, uma dessas manifestações de
protesto: “A chi chiama per la guerra, rispondiamo no”.
Dizia-se então: estamos todos em guerra contra os Estados Unidos da América.
Em Julho de 1980 Ronald Reagan disse: «O Vietnam não foi uma má experiência,
o que foi mau foi termos perdido a guerra.»
Os números de uma guerra nunca são exactos, chega-se a eles às apalpadelas e
nunca são definitivos:
- 3 milhões é o número de vietnamitas mortos, incluindo 2 milhões de civis.
- 60 mil americanos perderam a vida.
- as forças americanas utilizaram 15,35 milhões de toneladas de bombas
- foram gastos 220 mil milhões de dólares. Calcula-se que foram gastos 675 mil
dólares para exterminar um só guerrilheiro vietcong.
Lyndon Johnson
nunca aceitou que uns quantos guerrilheiros comunistas pudessem vencer os
Estados Unidos:
«A menos que os Estados Unidos disponham de um poderio
aéreo incontestável, estamos sujeitos a qualquer anão amarelo que tenha um
canivete».
O presidente Richard
Nixon foi um político paranóico, vingativo, volútil, embebedava-se e amiúde
batia na mulher. Foi este homem que chegou a considerar a opção nuclear para
resolver a guerra do Vietname, como se pode ver neste diálogo, gravado na Casa
Branca, com o secretário de estado Henry Kissinger:
Nixon – Mais valia
usar a bomba atómica no Vietname.
Kissinger – Isso
julgo seria ir longe demais.
Nixon – A bomba
atómica perturba-o? Eu só quero que você pense em termos amplos. A única coisa
em que nós discordamos é sobre os bombardeamentos. Você está preocupado com os
civis e eu estou-me bem nas tintas. Não me interessa isso.
Kissinger –
Preocupo-me com os civis porque não quero que o mundo se mobilize a acusá-lo de
ser um carniceiro. Podemos ganhar a guerra sem matar civis.
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