segunda-feira, 20 de janeiro de 2014

CARRILHÕES DA LIBERDADE


Ao longe entre o ocaso do entardecer e o dobre quebrado da meia-noite
Abrigámo-nos na entrada, ribombava um trovão
Enquanto majestosos sinos de faíscas acendiam sombras nos sons
Parecendo os carrilhões da liberdade a faiscar
Faiscando para os guerreiros cuja força não é para combater
Faiscando para os refugiados na indefesa estrada da fuga
E para cada um e todos os soldados desfavorecidos na noite
E nós contemplámos os carrilhões da liberdade a faiscar

Na fornalha derretida da cidade, assistimos inesperadamente
De rostos ocultos enquanto os muros se apertavam
À medida que o eco dos sinos nupciais antes da rajada da chuva
Se dissolvia nos sinos do relâmpago
Dobrando pelos rebeldes, dobrando pelos libertinos
Dobrando pelos desafortunados, os abandonados e rejeitados
Dobrando pelos proscritos, constantemente a arder no perigo
E nós contemplámos os carrilhões da liberdade a faiscar

Por entre o louco martelar místico do granizo feroz e dilacerante
O céu estalava os seus poemas em espanto nu
Que a persistência dos sinos da igreja soprava para longe dentro da brisa
Deixando não mais que sinos de relâmpago e o seu trovão
Soando pelos mansos, soando pelos afáveis
Soando pelos guardiães e protectores da mente
E pelo pintor não-alinhado atrasado para além do seu tempo
E nós contemplámos os carrilhões da liberdade a faiscar

Através do selvagem entardecer catedralesco a chuva desfiava contos
Para as formas anónimas sem posição nenhuma
Dobrando pelas línguas sem lugar onde conduzir os seus pensamentos
Em situações dadas como certas
Dobrando pelos surdos e cegos, dobrando pelos mudos
Dobrando pela mãe sem companheiro, maltratada, a mal-apelidada prostituta
Pelo criminosos de pequeno delito, acossado e enganado pela perseguição
E nós contemplámos os carrilhões da liberdade a faiscar

Ainda que a cortina branca duma nuvem num canto longínquo cintilasse
E a hipnótica neblina derramada se fosse elevando lentamente
A luz eléctrica ainda dardejava como flechas, disparadas todas excepto aquelas
Condenadas a perder o rumo ou a ser impedidas de o perder
Dobrando pelos que buscam, no seu trilho da procura
Pelos amantes de coração solitário com uma história demasiado pessoal
E por cada alma dócil e inofensiva erradamente colocada dentro duma prisão
E nós contemplámos os carrilhões da liberdade a faiscar

De olhos brilhantes como estrelas e rindo tal como recordo quando fomos apanhados
Capturados pela ausência da passageira das horas, pois pairavam suspensas
Enquanto escutávamos uma última vez e observávamos com um último olhar
Enfeitiçados e absorvidos até o dobre dos sinos terminar
Dobrando pelos doloridos cujas feridas não podem ser tratadas
Pelos incontáveis viciados desorientados, acusados, abusados e coisas piores
E por cada pessoa angustiada em todo o vasto universo
E nós contemplámos os carrilhões da liberdade a faiscar

Bob Dylan

Canção do álbum Another Side ofBob Dylan (1964)

 Bob Dylan em Canções Volume I (1962-1973) Relógio D’Água, Lisboa Setembro de 2006


Na impossibilidade de colocar a interpretação de Bob Dylan, optou-se por uma gravação, ao vivo, de Bruce Sprinsteen e outros.

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