quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

NOMOFOBIA


Não gosto de telefones, tão pouco de  telemóveis.

Dos telemóveis reconheço a sua utilidade para emergências, sejam elas quais forem, mas apenas para isso.

Há alguns meses que sou proprietário de um primitivo modelo de telemóvel, apenas porque a família entendeu que, começando a ficar gagá, servirá para chamar o 112, o que quer que seja, alguém que me dê uma mãozinha em caso de aflição.

Há quem fique aterrorizado com a ideia de ficar sem bateria, rede ou saldo no telemóvel.

Os ingleses chamam-lhe nomofobia e já está definida como uma sensação de angústia que surge quando alguém se sente impossibilitado de se comunicar ou se vê incontactável estando sem seu telemóvel.

A psicóloga Maria João Moura diz que há pessoas que não desligam o telemóvel para não estarem sozinhas.

Mário de Carvalho a págs. 13 de Fantasia para Dois Coronéis e Uma Piscina:

Telefones móveis! Soturma apoquentação! Um país tagarela tem, de um momento para o outro, dez milhões de íncolas a quere saber onde é que os outros param, e a transmitir pensamentos à distãncia.

Maria do Rosário Pedreira no blogue Horas Extraordinárias:

A sociedade moderna, excessivamente tecnológica, torna-nos bichos solitários (no masculino, claro). No Facebook, apanhei há tempos uma fotografia divertida de um bar, na parede do qual o proprietário afixara um pedido para que os clientes largassem os telemóveis e falassem, por favor, uns com os outros. É verdade que muita gente vive completamente escrava destes e de outros aparelhos, talvez para não se sentir muito sozinha, mas ainda assim sozinha porque ignorando por causa disso os que ali estão e podiam fazer-lhe companhia melhor do que as SMS que chegam, irritantemente, a todo o momento e exigem resposta. Com muitos cafés transformados em agências bancárias, desapareceram também as conversas e tertúlias que, nos anos 1960 e 1970, segundo me conta o Manel, juntavam à roda de uma mesa (em Lisboa e no Porto, pelo menos) muita gente que queria falar e discutir assuntos, conhecer escritores e mostrar poemas, levantar a voz contra o poder instituído e planear acções culturais e políticas. Hoje, os cafés têm poucas mesas e, ao que parece, os jovens intelectuais perderam o gosto de se encontrar e trocar impressões, a menos que seja por e-mail. Talvez os blogues tenham substituído esses encontros ao vivo, mas, num período tão mau como o que vivemos, não era descabido que se realizassem de novo tertúlias, até porque delas poderiam sair ideias boas e criativas que nos alegrassem os dias.

Jorge Listopad: 

À mesa de uma esplanada, vejo chegar um casal, jovem ainda. Sentam-se, encomendam a bebida, e logo, no mesmo tempo, como em simultâneo, puxam dos respectivos telemóveis e põem-se a conversar.
Cada um para seu lado, animadamente.

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