quinta-feira, 12 de março de 2015

OS IDOS DE MARÇO DE 1975


 12 de Março de 1975

Numa assembleia que reuniu perto de 200 oficiais do M.F.A., incluindo membros da Junta de Salvação Nacional e da Comissão Coordenadora, e que foi presidida pelo Chefe de Estado General Costa Gomes, é decidido remodelar o governo, iniciar a institualização imediata do M.F.A., na base de um Conselho da Revolução, e manter as eleições para a data prevista. Previstas para 12 de Abril seriam posteriormente marcadas para o dia 25 de Abril.

À saída da reunião os jornalistas puderam ouvir breves declarações dos intervenientes.

O General Fabião, Chefe do Estado-Maior do Exército (e membro da J.S.N) afirmou que os acontecimentos da Encarnação o surpreenderam um tanto.

 Andava «qualquer coisa no ar», realmente, mas daí até se pensar num ataque com meios aéreos e terrestres ia um grande passo.

Analisando os acontecimentos o Diário de Lisboa escrevia:

Sobre o 11 de Março apetece dizer que foi um erro histórico. Spínola fala de uma “causa perdida”: lá terá as suas razões, ele que se dizia «um general de reserva» e não na «reserva». De qualquer modo passa agora, em termos práticos, à reserva da nossa memória recente. Vigilantes, importa não o perdermos de vista.


Outros títulos:

- 100 mil pessoas, ontem, na Avenida da Liberdade em Lisboa, numa manifestação
  de apoio ao M.F.A. e ao Governo Provisório;

- Capitão Pinto Soares, em Madrid: «Um acto isolado inconsciente e suicida. Irra-

  diação dos partidos que possam estar implicados.»

- A L.U.A.R. denuncia: Coincidências com o golpe chileno;

- O P.R.P:-B.R. ofereceu-se para colaborar com o COPCON;

- No centro do Porto milhares de vozes gritaram: «Fascistas na Prisão»;

- Estragos e destruições nas sedes do C.D.S., P.D.C. e P.P.D. no Porto;

- Destruídas as sedes do P.D.C. e C. D.S. em Lisboa;

- Saqueada dependência da C.I.P., Confederação da Indústria Portuguesa na   
  Av. 5 de Outubro em Lisboa;

- A Espanha e os Estados Unidos desmentem implicações na intentona;

- Pergunta a imprensa inglesa: «Até onde a N.A.T.O. e a C.I.A estiveram
   Implicadas»;

- Normalizado o tráfego aéreo;

- Postos da fronteira terrestre ainda não reabriram;

- Sindicatos exigem luta contra os monopólios;

- Aveiro foi para a rua vitoriar os seus soldados;

- Freitas do Amaral em Londres: «surpreendido e chocado»;

- Duas sentinelas guardam o general Spínola na base de Talavera la Real. Com ele
   encontram-se outros 18 oficiais;

- O Brasil não recebeu qualquer pedido para conceder asilo político a Spínola;

- Marcelo e Tomás calados;

- Saqueada a casa de Spínola ao Campo Santana em Lisboa;

- Sete administradores do Banco Espírito Santo detidos pelo COPCON;

- COPCON publica lista de oficiais detidos;

- Galvão de Melo, segundo Vasco Lourenço, não estava implicado na intentona;


- Trabalhadores da Rádio Renascença, em greve há 19 dias, convocada contra os
   despedimentos registados na estação, decidiram retomar a programação. A gre-
   ve tem disso suspensa apenas nos períodos de transmissão diária do terço e das
   missas dominicais. Em comunicado os trabalhadores perguntam se a Hierarquia
   da Igreja está ou não interessada numa Emissora Católica penetrada do espíri-

   to do 25 de Abril e declaradamente ao lado do povo português.

- Quatro feridos do ataque ao RAL 1 ainda internados no Hospital Militar;

- Barricadas nas estradas para Vigilância Popular.


Todos os partidos emitem comunicados condenando a intentona.

O Partido da Democracia Cristã, cuja sede em Lisboa foi destruída, e com o seu Secretário-Geral, Major Sanches Osório ausente em parte incerta, fala em insólitas manobras de força de elementos reaccionários que visam destruir a Jovem Democracia Portuguesa.

 O PPD, em comunicado considera urgente a punição dos responsáveis e diz que a tentativa de golpe «veio revelar» a insuficiência do saneamento «que é sem dúvida uma das actuações mais vivamente exigidas pelo povo». Contudo, os populares na manifestação da Avenida da Liberdade em Lisboa. gritavam;

Onde está o PPD que não se vê!


Vergílio Ferreira:

Afinal, parece ter havido mesmo um movimento em grande. Mas continuo a pensar que ele se iniciaria mais tarde, por exemplo hoje. A antecipação teria apanhado os implicados desprevenidos. Quem antecipou? Porquê? E se foram os militares do governo que puseram a coisa em andamento para despoletar a revolução? Há uma desproporção enorme enque o se houve e se diz estar para haver. Como é que Spínola caía nesta arara infantil? Entretanto os partidos, sobretudo o «suspeito» PPD, acertou o passo com injúrias aos vencidos, protestos de vassalagem aos vencedores. Mas quem venceu, além do PC? E todavia, tudo isto era inevitável. Bastava que se tivesse formado um conselho revolucionário, logo no 25 de Abril, com um programa político prévio, bem discriminado, e com as distâncias marcadas em relação aos partidos, mormente ao comunista. Mas o comunismo é a grande fascinação dos militares mais evidentes. Um Melo Antunes, nestes jogos cruzados, deve ter ficado sem cabeça.

Mário Castrim, no Diário de Lisboa, intitulava a sua crítica de televisão: “Vitória em Março – um cheirinho a Primavera” e finalizava:

Foi dito com a clareza máxima: chegou o momento de se saber quem está e quem não está com o M.F.A. Quem está com ele a sério, isto é, em defesa do povo português. É preciso saber quem invoca, sem ser em vão, o nome do M.F.A. Na boca de muitos andadrá ele; nem todos se poderão gabar de o trazer no coração.

Fontes:
- Acervo pessoal;
Os Dias Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira;
Conta-Corrente, 1º Volume, Vergílio Ferreira.

Legenda:

- 1ª página do Diário de Lisboa de 12 de Março de 1975
- Declarações de Vasco Gonçalves publicadas em A Capital de 12 de Março de 1975
- Título do Diário Popular de 12 de Março de 1975
- Notícia do Diário de Lisboa de 1975
- Notícia da República de 12 de Março de 1975 

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