Retrato em Movimento
Herberto Helder
Capa: espiga
Pinto
Colecção Poesia
e Ensaio nº 17
Editora Ulisseia
Lda, Lisboa, Maio de 1967
Morrer era agora a minha liberdade, e eu tinha a vida
inteira para executá-la pormenorizadamente.
Começo a perceber a que espécie de morte aspira atua
interior coisa mortal – pensou a minha terrível ciência. – Tu queres a
eternidade. Ouve: O desejo da eternidade é o fogo que mais depressa queima as
mãos. Esse desejo é insolitamente morta.
Era a minha última liberdade, enquanto eu subia as
escadas do metropolitano e entrava nos ciclos do tempo, no procedimento do meu
próprio corpo e nos projectos da sensível inteligência do que nos vai
acontecer.
Estás no máximo da tua velocidade, no exercício da tua
música.
À minha volta anoitecia, e eu tinha todas as mãos
queimadas.
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