terça-feira, 28 de abril de 2015

OS IDOS DE ABRIL DE 1975


28 de Abril de 1975

NA COMPOSIÇÃO DA Assembleia Constituinte os advogados estão em maioria.
Em 250 eleitos há apenas 20 mulheres.
Em quatro décadas de democracia que estão cumpridas desde 25 de Abril, encontramos 31mulheres ministras e 467 homens, nenhuma mulher como presidente da República, apenas uma candidata a presidente: Maria de Lurdes Pintasilgo nas eleições presidenciais de 1986, sendo também a única mulher que chefiou um governo, nomeada, em 1979, pelo Presidente Ramalho Eanes.

CRISTÓVÃO AGUIAR EM Relação de Bordo:
As primeiras eleições livres de toda a minha vida! Ficou o Partido Socialista à frente, com cerca de trinta e oito por cento de votos expressos. Nunca tinha votado antes, que nunca me deixaram recensear nas alturas em que havia eleições ou um arremedo delas. E se calhar valeu bem a pena esperar tanto tempo por este dia em que o Povo Português foi votar em plena liberdade e com uma alegria que afastava nuvens e outras sombras dos rostos onde elas não há muito costumavam vir aninhar-se. Foi como se estivesse toda a gente em festa tanto pelo direito como pelo avesso.

VERGÍLIO FERREIRA NO 1º Volume da sua Conta-Corrente:
Dia 25 houve eleições. Noventa por cento do País foi às urnas. Só dez por cento votou em branco, ou seja o que as tropas aconselhavam para demonstrarem, como Salazar, a nossa incapacidade política. Mas o povo sabia o que queria. E disse-o. Vagas de gente à porta das assembleias. Duas horas em pé e à espera, foi a minha ração. Notabilidades na minha bicha, o Rosa Coutinho. Mas também tive um jornalista a questionar-me… Resultado: vitória dos socialistas, ou seja do slogan «socialismo sim, ditadura não». Somos um país pacífico, vagamente preguiçoso, chateia-nos uma ordem de caserna como a que nos imporia o comunismo. Revelado este como pobre minoria. O activismo, a ousadia, a ameaça davam este na aparência como uma força maioritária. Não era. Estava tudo na primeira linha e imaginava-se que havia outras linhas atrás. Clamor agora de vencidos: «A esquerda triunfou.» Pois. Mas não a deles. E agora?

MIGUEL TORGA NO seu Diário:
Eleições sérias, finalmente. E foi nestes cinquenta anos de exílio na pátria a maior consolação cívica que tive. Era comovedor ver a convicção, a compostura, o aprumo, a dignidade assumida pela multidão de eleitores a caminhar para as urnas, cada qual compenetrado de ser portador de uma riqueza preciosa e vulnerável: o seu voto, a sua opinião, a sua determinação. Parecia um povo transfigurado, ao mesmo tempo consciente da transcendência do acto que ia praticar e ciente da ambiguidade circunstancial que o permitia. O que faz o aceno da liberdade, e como é angustioso o risco de a perder! Assim os nossos corifeus saibam tirar do facto as devidas conclusões. Mas duvido. Nunca aqui os dirigentes respeitaram a vontade popular, mesmo quando aparentam promove-la. No fundo, não querem governar uma sociedade de homens livres, mas uma sociedade de cúmplices que não desminta a degradação deles.


Fontes:
- Acervo pessoal;
Os Dias Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira.
- Relação deBordo – Cristóvão de Aguiar.
- Conta-Corrente de Vergílio Ferreira.
- Diário de Miguel Torga.

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