quinta-feira, 23 de abril de 2015

OS IDOS DE ABRIL DE 1975


23 de Abril de 1975

A POPULAÇÃO da Azambuja decide ocupar uma herdade, entre Alcoentre e Rio Maior, pertencente ao Duque de Lafões, que irá dar origem à Cooperativa Agrícola Torre Bela.
Os camponeses optaram por não pedir o apoio do Partido Comunista Português, que vinha sendo procedimento corrente, optando por pedir ajuda à LUAR. A ocupação foi, então, dirigida por Camilo Mortágua e ficou registada num documentário realizado porThomas Harlan.

O NÚNCIO APOSTÓLICO, em nome da Santa Sé, e o ministro Melo Antunes, em representação do Governo português, assinaram esta manhã os instrumentos de ratificação do Protocolo Adicional à Concordata, que possibilita o divórcio aos cidadãos casados pela Igreja.

NUM DOS COMÍCIOS eleitorais do Partido Socialista, Mário Soares clarificou:
Não temos o projecto de copiar experiências alheias, de introduzir em Portugal um socialismo à russa, à chinesa, à sueca ou à cubana. Queremos um socialismo à portuguesa. Lutamos por um poder que pertença de facto aos trabalhadores, e não aos burocratas que falam em nome dos trabalhadores.
Os tempos vieram a mostrar que o socialismo de Mário Soares era algo que podia ser acomodado, pelos séculos dos séculos, no fundo de uma gaveta.

NESTE DIA, Cristóvão Aguiar registava no seu livro Relação de Bordo:
Há poucos dias, durante a homilia da missa dominical na igreja de uma freguesia rural das cercanias, o padre falou aos seus paroquianos sobre as próximas eleições para a Assembleia Constituinte. Lançou mão da parábola para melhor se fazer compreender e disse-lhes: - Meus caros irmãos em Cristo: suponhamos que um de vós é dono de uma vaca leiteira; se ganhar o socialismo, fica o irmão com a vaca, mas tem que dar o leite a esse partido; se ganhar o comunismo, fica sem a vaca e sem o leite…

PALAVRAS DO Apontamento de José Saramago no Diário de Notícias:

Por vários modos e meios têm chegado até nós sinais de que o povo português enfrenta com alguma estes dias próximos, o das eleições e os seguintes, indícios de que, brutalmente sacudido por uma campanha eleitoral em muitos aspectos insensata, tende agora a fechar-se sobre si próprio. Há mesmo quem diga que o povo tem medo, que, submergido pela vaga de boatos alarmistas que varrem o País de lés a lés, prefere a passividade à acção participante num processo revolucionário que, contraditoriamente, só graças a ele rem prosseguido.
Admitamos que seja verdade quanto acima fica dito, que, realmente, os eleitores hesitam em sair para a rua, em entrar nas filas de espera das assembleias eleitorais e depositar o seu precioso (sim, preciosos) voto na urna. Admitamos tudo isso e perguntemos: a quem interessa que o povo tenha medo?
(…)
O medo está contra o povo? Pois então afirmemos, não apenas por palavras, mas com todos os actos necessários que o povo está contra o medo.

Fontes:
- Acervo pessoal;
Os Dias Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira.
- Os Apontamentos – José Saramago
- Relação de Bordo – Cristóvão Aguiar.

Sem comentários: