domingo, 5 de abril de 2015

OS IDOS DE ABRIL DE 1975


 5 de Abril de 1975

Abordando  a visita de Jean-Paul Sartre e Simone de Beauvoir a Lisboa, despediram-se hoje, o Avante publica uma nota intitulada Os Adivinhos do Passado.

Poucas coisas juntavam os comunistas a Sartre, muitas eram as que os separavam. 


 Num artigo, que há-de publicar no Jornal Novo de 17 de Abril de 1975, sobre a permanência de Sartre em Lisboa, Eduardo Lourenço, a abrir, escreve:


 Na tal conferência na Casa da Imprensa que Vergílio Ferreira diz não ter (ou não quis) ouvido quase nada, Sartre começou por responder a uma pergunta em que lhe recordavam uma entrevista ao Nouvel Observateur em que terá afirmado que as eleições são uma ratoeira para idiotas e às afirmações que agora proferira em Lisboa:
As eleições são uma ratoeira para idiotas, porque  quando se vota, individualmente,, em programas propostas por partidos, quer dizer, em pequenos grupos separados da comunidade, e que propõem um conjunto de reformas numa linha política que não representa o que o próprio individuo pensa, vota-se porque há muitos partidos para escolher e escolhe-se aquele que está menos longe do que cada um pensa. Mas não se escolhe precisamente um partido. Vota-se porque os outros votam e é preciso votar com eles. Mas, não é uma escolha. Por outro lado, para mim, as eleições são uma expressão pública caduca. Defendo pelo contrário o exercício da democracia directa, em detrimento da democracia por sufrágio universal.


Respondendo à solicitação de esclarecer a sua posição a favor das eleições ou da revolução, colocada de forma a encará-las como duas possibilidades, perante as quais certos teóricos defendem serem as eleições desmobilizadoras, afirmou:
Se a pergunta me é posta dessa maneira, revolução ou eleições eu, pessoalmente, digo revolução sim, eleições não. Mas, pergunto a mim mesmo se se coloca assim a questão? Se a questão não é a revolução e as eleições? O povo português, no seu conjunto, os camponeses do norte, por exemplo, são cidadãos livres e capazes de votar com todo o senso que esse voto implica ou, ainda não são capazes? Depois de 590 anos de ditadura, não é possível que as pessoas não conservem, embora não queiram, alguma coisa de que precisam desembaraçar-se, mas que é como que uma estrutura fascista, que esqueceram, que contestam, mas que persiste na vida portuguesa.
Para a reportagem que o matutino O Século publicou sobre a conferência de imprensa foi escolhida uma das frases que Sartre proferiu:
Fala-se muito aqui de revolução mas ele ainda não foi feita.

Fontes:
- Acervo pessoal;
Os Dias Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira.

Legenda: Sartre de «G3» nas mãos, num encontro com militares, fotografia tirada de Os Dias Loucos do PREC.

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