5 de Abril de
1975
Abordando a visita de Jean-Paul Sartre e Simone de
Beauvoir a Lisboa, despediram-se hoje, o Avante publica uma nota
intitulada Os Adivinhos do Passado.
Poucas coisas
juntavam os comunistas a Sartre, muitas eram as que os separavam.
Num artigo, que
há-de publicar no Jornal Novo de 17 de Abril de 1975, sobre a
permanência de Sartre em Lisboa, Eduardo Lourenço, a abrir, escreve:
Na tal
conferência na Casa da Imprensa que Vergílio Ferreira diz não ter (ou não quis)
ouvido quase nada, Sartre começou por responder a uma pergunta em que lhe
recordavam uma entrevista ao Nouvel Observateur em que terá afirmado que
as eleições são uma ratoeira para idiotas e às afirmações que agora
proferira em Lisboa:
As eleições são uma ratoeira para idiotas, porque quando se vota, individualmente,, em
programas propostas por partidos, quer dizer, em pequenos grupos separados da
comunidade, e que propõem um conjunto de reformas numa linha política que não
representa o que o próprio individuo pensa, vota-se porque há muitos partidos
para escolher e escolhe-se aquele que está menos longe do que cada um pensa.
Mas não se escolhe precisamente um partido. Vota-se porque os outros votam e é
preciso votar com eles. Mas, não é uma escolha. Por outro lado, para mim, as
eleições são uma expressão pública caduca. Defendo pelo contrário o exercício
da democracia directa, em detrimento da democracia por sufrágio universal.
Respondendo à solicitação de esclarecer a sua posição
a favor das eleições ou da revolução, colocada de forma a encará-las como duas
possibilidades, perante as quais certos teóricos defendem serem as eleições
desmobilizadoras, afirmou:
Se a pergunta me é posta dessa maneira, revolução ou
eleições eu, pessoalmente, digo revolução sim, eleições não. Mas, pergunto a
mim mesmo se se coloca assim a questão? Se a questão não é a revolução e as
eleições? O povo português, no seu conjunto, os camponeses do norte, por
exemplo, são cidadãos livres e capazes de votar com todo o senso que esse voto
implica ou, ainda não são capazes? Depois de 590 anos de ditadura, não é
possível que as pessoas não conservem, embora não queiram, alguma coisa de que
precisam desembaraçar-se, mas que é como que uma estrutura fascista, que
esqueceram, que contestam, mas que persiste na vida portuguesa.
Para a
reportagem que o matutino O Século publicou sobre a conferência de imprensa foi
escolhida uma das frases que Sartre proferiu:
Fala-se muito aqui de revolução mas ele ainda não foi
feita.
Fontes:
- Acervo
pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino
Gomes e José Pedro Castanheira.
Legenda: Sartre
de «G3» nas mãos, num encontro com militares, fotografia tirada de Os Dias
Loucos do PREC.
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