sexta-feira, 2 de outubro de 2015

QUOTIDIANO PERDIDO


O tabaco e o vinho
não resolvem
mas outro dia

Agora
o que me falta
rigorosamente
és tu

sem literatura

O poema é morfina
                 não cura

Os sinais que deixaste na cama
a presença do teu corpo singular
a tua mão na minha ao adormeceres
o deitar o vinho no teu copo
o gesto teu de acender o cigarro
as palavras nervosas tranquilas
tudo quotidiano
necessário
sem rotina

Os meus cinco sentidos
te reclamam
exactamente como és

sem tirar nem pôr
da cabeça aos pés

Tu és o meu dicionário
sem ti tropeço nas palavras

noite a noite
iludo no vinho
o meu vocabulário

Mendes de Carvalho em Poemas de Ponta e Mola

Legenda: fotografia de Steve Almond

Sem comentários: