sábado, 20 de janeiro de 2018

OLHAR AS CAPAS


Poesia, Liberdade Livre

António Ramos Rosa
O Tempo e o Modo, Morais Editora, Lisboa 1962

Longe de ser um poeta programático, pela genuidade da impulsão poética, Gomes Ferreira supera todas as possíveis limitações de uma poesia «social». O empenhamento de José Gomes Ferreira é-o da liberdade integral de uma afirmação que não se rege por nenhum princípio que não seja o da mesma liberdade e de uma solidariedade total com todas as vítimas, não só dum sistema social, como da própria condição de existir, Ao asseverarmos que a radicação desta poesia é original ou de certo modo ante-histórica, não podemos deixar de fazer uma afirmação complementar: a de que ela é também profundamente temporal, visto que violentamente defronta o absurdo e a alienação social presente. Denúncia ou acusação são decerto termos justos para indicar a forma como essa defrontação se dá. Contudo, não definem o carácter específico com que na sua poesia se opera essa forma de presentificação ascendente e intensiva que assume a energia da sua palavra poética. É que tal denúncia ou acusação não é suficientemente limitada a um contexto social e a potência imaginativa da palavra de Gomes Ferreira, arrancando de uma inconformidade original, transborda todos os limites e alarga-se a um espaço cósmico, que mesmo sem implicações de transcendência, ganha ressonâncias apocalípticas e proféticas.

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