sábado, 27 de janeiro de 2018

ENA, TETRAVÔ!


E já agora, se não vos deixastes dormir, meus queridos tetranetos, quando passastes pelas últimas páginas que escrevi, vou dizer-vos qual era o meu vencimento, ou seja, quanto é que eu ganhava, por mês, como professor.
Estas coisas dos dinheiros, do presente e do passado, são muito pouco significativas para quem não as viveu. O dinheiro só interessa, quantitativamente, por aquilo que se pode adquirir com ele, e não é fácil ter-se o sentimento dessas relações. O meu pai, por exemplo, ganhava 100 escudos por mês e eu ainda há pouco dei 100 escudos, de gorjeta, por vontade própria, ao operário que veio aqui a casa instalar uma gelosia numa janela, para ele beber uma cerveja (e se calhar não chega) e ainda ontem comprei um pão, grandinho, para os meus pequenos-almoços, que me custou 155 escudos.
Em 1958, depois de ter sido nomeado metodólogo, os meus ganhos eram, por mês como professor, 4.500$00, mais a gratificação de metodólogo, 1.000$00, mais a direcção do Gabinete de Física, 200$00, o que perfaz 7.700$00, isto é, 5 contos e setecentos escudos, dos quais eram descontados, para impostos, 445$20. Da direcção da Biblioteca do liceu não recebia nenhum subsídio porque já tinha o da direcção do Gabinete de Física e não era permitido ter dois subsídios. Recebia, portanto, 5.254$80.
Quando me aposentei, em Janeiro de 1975, ganhava 11.762$00 ilíquidos, isto é, sem atender aos inevitáveis descontos, e muito próximo de 11.500$00, na realidade, depois dos impostos descontados. Assim, de 1958 a 1975, num intervalo de 17 anos, os meus ganhos ultrapassaram um pouco do dobro.
Actualmente, meus queridos tetranetos, no ano de 1995 em que vos estou escrevendo, ganho, por mês, 150.873$00. Ena, pai! – dirão vocês. Ou melhor: ena, tetravô! De 1975 a 1995, isto é, em vinte anos, saltaste de 11.500$00 para 150.873$00! Aumentaste, 13 vezes o teu vencimento, em vinte anos! Que é que queres mais?

Rómulo de Carvalho em Memórias

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