segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

ERA UMA FLOR TÃO ORGULHOSA...


O principezinho arrancou também, não sem uma certa melancolia, os últimos rebentos de embondeiros. Pensava nunca mais voltar. Mas todos estes trabalhos familiares lhe pareceram, nessa manhã, extremamente enternecedores. E, quando, pela última vez, regou a flor, sentiu uma grande vontade de chorar.
- Adeus, disse à flor.
Mas ela não lhe respondeu.
- Adeus, repetiu.
A flor tossiu. Mas não era por causa da constipação.
- Fui uma tola, disse-lhe por fim. Perdoa-me e procura ser feliz.
Surpreendeu-o a ausência de censuras. Permanecia ali, todo confuso, com o globo na mão. Não compreendia aquela suavidade calma.
- É certo, amo-te, disse-lhe a flor. Por minha culpa, não soubeste de nada. Isso não tem importância alguma. Mas tu foste tão tolo como eu. Procura ser feliz… Pousa essa redoma. Já não a quero.
- Mas o vento…
- Não estou tão constipada como isso… O ar fresco da noite vai fazer-me bem… Sou uma flor…
- Mas as feras…
- se tiver de suportar duas ou três lagartas, para chegar a conhecer as borboletas, não faz mal. Dizem que é tão bonito. Senão, quem me há-de visitar? Estarás longe, tu. Das feras maiores não tenho medo nenhum. Tenho as minhas garras.
E mostrava ingenuamente os quatro espinhos. Depois acrescentou:
- Não te demores mais, é irritante. Decidiste partir. Vai-te embora.
É que não queria que ele a visse chorar. Era uma flor tão orgulhosa…

Antoine de Saint-Exupéry em O Principezinho

Legenda: desenho de Antoine de Saint-Exupéry

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