terça-feira, 30 de junho de 2015

JUNHO QUE FINDA


Junho que chega ao fim, o mês dos perfumes mágicos, intensos: sardinhas assadas, manjericos, sardinheiras em flor.
Guardo da infância as quentes noites de Verão, lembro a miudagem a correr nas raus, o trânsito automóvel, as gentes vinham para a porta da rua conversar, outras ficavam à janela, as pessoas conheciam-se, falavam, por vezes zangavam-se era quase nulo. Noites havia em que subíamos até ao jardim da Praceta António Sardinha, na Penha de França, e havia outras gentes espalhadas pelos bancos, sentados na relva, bebendo cervejas e capilés nas leitarias do bairro.
A televisão viria a destruir o feliz convívio das gentes simples do meu bairro.
Agora, ao passar os olhos por algumas das páginas de Viver com os Outros, reparo que Isabel da Nóbrega também reteve essa imagem das gentes sentadas à porta de casa, nas quentes noites de Junho, que foi o mês em que nasceu, e talvez por isso tenha escolhido um jantar,numa noite de Junho, para enredo de Viver Com Os Outros. 

Descobríamos que aquelas pessoas sentadas nos degraus de pedra, à porta de casa, os garotos na borda do passeio, os homens em mangas de camisa ou casacos de pijama, junto ao muro, quase não falando, recebendo a noite morna e o luar tal como os cedros e as olaias e as tílias do parque, estavam a ser felizes e não o sabiam.

Os cheiros que andam misturados numa noite de Junho, mesmo na cidade, basta que se encontre um parque próximo. E também o cheiro do manjerico, ali no nicho, por entre as outras plantas, sobre o qual pousei instintivamente a palma da mão quando a Ana me arrastou para aqui.


Legenda: pintura de Pierre-August Renoir

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