sexta-feira, 31 de julho de 2015

OS IDOS DE JULHO DE JULHO DE 1975


31 de Julho de 1975

OTELO Saraiva de Carvalho regressou, ontem, da sua viagem a Cuba.

No Aeroporto, uma multidão recebeu-o entusiasticamente e houve conferência de imprensa, com dezenas e dezenas de jornalistas portugueses e estrangeiros.

Eu e a delegação portuguesa vimos profundamente impressionados com tudo o que nos foi dado apreciar. Depois daquilo que vi concluí que vale realmente a pena construir uma sociedade socialista.

Um jornalista pergunta-lhe sobre a eventual participação do V Governo Provisório.

Não posso comentar absolutamente nada sobre isso, porque não tenho qualquer confirmação. Só depois de contactar os responsáveis é que me posso pronunciar.

Sobre o recrudescimento das campanhas de violência, declarou:

Gostaria de não fazer ameaças, mas afirmarei que, nessa altura o M.F.A. estaria disposto a entrar também num caminho muito duro de repressão, que temos evitado até agora. Aqui há tempo quando muito candidamente e dei o meu voto negativo e desejando que oxalá nunca tivéssemos de meter no Campo Pequeno os contra-revolucionários, recebi inúmeras cartas de censura. Mas estou convencido de que, a curto prazo, termos de o fazer… Infelizmente, a coisa parece que se está a encaminhar nesse sentido. Parece que se vai tornando impossível fazer uma revolução
Socialista na totalidade pela via pacífica revolução.


Tal como disse em Cuba: o P.S., actualmente, é  a grande esperança da direita em Portugal. Neste momento o P. S. consegue absorver toda a direita, toda a reacção, neste País, sendo o inimigo mais poderoso da esquerda… Terei de falar com o dr. Mário Soares, pois não se concebem as posições que ele tem assumido, ele, um homem que sempre foi um grande lutador antifascista. Estranho muito.

OS JORNAIS continuam a dar amplas notícias da enorme onda de violência, de anti-comunismo desencadeada nos últimos tempos.
As Forças Armadas têm sido chamadas para por cobro aos graves incidentes,
Segundo o vespertino A Capital, um grupo armado fez ir pelo ar a modesta casa onde habita, em Évora, Dinis Miranda, membro do Comité Central do Partido Comunista Português. A explosão provocou ferimentos em três familiares do deputado comunista.

FOI DEMITIDO da função pública o catedrático Soares Martinez, admirador de Salazar de quem foi ministro da Saúde e solicito anfitrião aos «gorilas» enviados, durante a ditadura, por Veiga Simão para a brutal repressão que se abateu sobre os estudantes.

Fontes:
- Acervo pessoal;
Os Dias Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira.

Legenda: fotografia tirada de Os Dias Loucos do PREC

Sem comentários: