segunda-feira, 20 de julho de 2015

OLHAR AS CAPAS


Mão Direita do Diabo

Dennis McShade
Capa: Abreu Teixeira
Editorial Ibis, Amadora, Janeiro de 1967

Chatices, toda a gente tem, Maynard. Não é pior estar aqui, num esquecido quarto de hotel de Chicago, com uma úlcera que é uma broca, do que ter um cancro na garganta ou uma perna gangrenada. Não é pior andar a monte, sozinho entre as pessoas, escondendo o rosto dos espelhos, fugindo com o corpo a balas que têm um nome inscrito, do que morrer de sede no deserto do Saara ou de fome num campo de concentração. Maynard, viver é pagar um preço. Viver é acumular horas que depois se sabe terem sido desperdiçadas, porque não são mesmo para outra coisa. Isto que se chama experiência, pegar nas coisas com os dedos e vê-las com os olhos, que deixa na boca um sabor a fel, é mesmo assim, porque não pode ser de outra maneira. Chorar no próprio ombro é, além de esteticamente desaconselhável, um preciosismo humano quase odioso, se há razão, e tem que haver, para falar em nome de uma certa virilidade que é a tua tão antiga e dolorosa máscara. Surpresa, Maynard, surpresa? O homem que se surpreende não é adulto.

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