terça-feira, 14 de julho de 2015

POEMA DO DÓRI


Nevoeiro... Nevoeiro...

O Mar é grande e o batel pequeno.
O Mar é imenso e o porto é um ponto.
Nevoeiro... Nevoeiro.
Silêncio. Tristeza triste a de quem tem
um ruído igual a bater nos ouvidos
duas horas, cem dias.
O peixe que salta e estrebucha no barco,
a vaga que sobe e se encrespa e que perde
o esforço dum dia.
A linha que estica e os membros que são
a máquina-remos,
a máquina-velas,
os membros que são um moto contínuo.
A ronca que ronca, o sino que tange
- que triste tanger -. O céu sem estrelas.
O gelo que desce das bandas do Norte
- escondido na bruma - que desce e que range.
Um choque.
Um grito ...
Quem foi ...
Onde foi?...
Ali a dois metros, a cem, ou a mil. 
Ninguém vê nada do seu barco,
e procurar
era perder a posição ...
Cem dias ... Cem dias na vida irreal
dum mundo à parte ...
Mas não é só na Terra Nova
que o nevoeiro cai
e anda rentinho ao Mar. 
Neste país de luz e Sol
o nevoeiro anda cá dentro
e não nos deixa olhar ...

Álvaro Feijó em Poemasde Álvaro Feijó

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