segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

OLHAR AS CAPAS


Bronco Angel, o Cow-Boy Analfabeto

Fernando Assis Pacheco
Edição e Prefácio de Carloa Vaz Marques
Ilustrações: João Fazenda
Capa: V. Tavares
Tinta-da-China, Lisboa, Novembro de 2015

«Eu nasci de catorze meses, que é assim um bocadinho prematuro ao contrário, e foi por causa que a minha mãe não queria alcançar mas depois distraiu-se e o meu pai disse:
«Olha, se for rapariga chama-se Custódia», mas nasci eu.
Quando eu nasci, a parteira olhou muito para mim e exclamou:
 «Este moço é mais feio do que uma embalagem de fósforos de cozinha!»
Isto são coisas que eu ouvi contar e não ligo, porque realmente se fosse a ligar emigrava mas era para o Alasca e nunca mais punha os pés em Crow Junction, ora essa. A parteira nem levou dinheiro pelo serviço, ficou cheia de pena. Diz-se que disse à madrinha:
«Mais valia ter nascido de sete meses, para vocês se irem habituando. Agora de catorze…»
O certo é que em pequenino não fui feliz nem infeliz, antes pelo contrário. Como todos os putos, roubava marmelada das tigelas e apanhava porradões na cabeça. Deve aliás ter sido disso que saí para o chocho. Ah, mas eu pelava‑me por marmelada! Mais tarde, quando subi a xerife, assinei logo um mandado de busca à confeitaria de Crow Junction para poder trazer de lá toda a marmelada da montra. Bem, e o dono da confeitaria por acaso tinha ideias contrárias à Constituição Federal. Esperto, hein?
Houve uma altura que eu não conseguia adormecer sem devorara meio quilo de marmelada. Comia no escuro. Com as mãos, e deixava a almofada toda besuntada. De manhã a minha mãe tinha um trabalhão para me despegar.

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