segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

VENHA DAÍ O ASSIS PACHECO!


Com este título, há precisamente 20 anos, Miguel Esteves Cardoso assinava, nas colunas de O Independente, um comovido In Memoriam de Fernando Assis Pacheco:

Teremos grandeza bastante para descobrir a grandeza dele? Provavelmente não. É uma obra imensa que tem de ser lida na inteireza. Seria preciso o impossível – outro Assis Pacheco – para lhe dar a devida atenção e o decidido valor. Mas se nos juntarmos todos… talvez sejamos capazes de abraçá-lo mais uma vez. E, desta vez para sempre.
Vai ser bom lê-lo e vê-lo renascer. Uma alegria para acompanhar e tornar ainda maior a nossa mágoa, dando-lhe o sentido que ainda nos falta conhecer e sofrer para começarmos a aproximar-nos da sua verdadeira inteireza. Leve o tempo que levar. Tem de ser. Não é por ele. É, no espírito e generosidade que ele sempre nos mostrou, por nós.
Graças ao Assis, para nós apenas.

Dizia o Esteves Cardoso: leve o tempo que levar.

Demorou 20 anos, mas aí está: a revisitação da obra de Fernando Assis Pacheco.

A Tinta-da-China passou a deter os direitos da obra de Fernando Assis Pacheco e tratou de deitar mãos à obra.

A obra é Bronco Angel, o Cowboy Analfabeto, que o Assis publicou, nos anos 80, como folhetim, no semanário Bisnau, com o sugestivo pseudónimo William Faulkingway.

Trata-se de um livro inédito.

No prefácio, Carlos Vaz Marques escreve:

De uma forma ou de outra, quase tudo é riso em Fernando Assis Pacheco. Fazer troça da própria dor pode ser um poderoso analgésico. Uma pessoa sofre, uma pessoa comove-se, uma pessoa chora, mas no instante em que o sofrimento ameaça tornar-se autocomplacência é altura de sabotar a mariquice com uma boa gargalhada. A farsa é capaz de ser a arma mais eficaz de que dispomos perante a tragédia. Ou, pelo menos, a melhor maneira de lhe empatarmos o passo, já que o resultado final está escrito de antemão.

O Cowboy Analfabeto é um livro datado pelo que certas episódios, piadas e alusões, só as entende quem acompanhou a política, a literatice, o futebol daqueles tempos.

Mas lê-se com agrado e de uma assentada.

Espera-se, agora, que a editora tenha o cuidado de procurar as inúmeras crónicas, histórias, poemas que o Assis deixou espalhado por jornais e revistas.

Não é trabalho fácil mas, como disse o Esteves Cardoso tem de ser.


Legenda: recorte de uma crónica de Fernando Assis Pacheco publicada no Diário de Lisboa, anos 60.

Muito importante seria recuperar os textos que Fernando Assis Pacheco escreveu para A Mosca, suplemento de humor, com direcção de José Cardoso Pires, que se publicava aos sábados no Diário de Lisboa.

Sem comentários: