segunda-feira, 7 de dezembro de 2015

POSTAIS SEM SELO


Comecemos com a clássica imagem de filmes. Em primeiro plano, o escritor. Está só com a sua velha máquina de escrever. A noite é tanta que a casa se confunde com o mundo. Os cigarros ardem no cinzeiro cheio de beatas. A luz desce conicamente do velho “abat-jour” iluminando o seu perfil nervoso e a folha branca onde crescem as palavras. A mulher chama-o da sala ao lado pela terceira vez. Pela quinta vez ele não responde. A mulher faz as malas e sai. Pela porta deixada aberta entra a fúria do vento. Ouve-se a chuva a cair no exterior e uma sucessão de portadas a bater.

Manuel Hermínio Monteiro, Elogio do Escritor em Urzes

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