O The
New York Times publicou na primeira página um editorial sobre a
"epidemia das armas" nos Estados Unidos. É, de facto, um escândalo a facilidade
com que civis compram armas de guerra. No entanto, aquele editorial foi uma
rajada no pé. Dias antes, um casal havia cometido uma carnificina na
Califórnia: 14 mortos e 21 feridos. Apesar de se ir conhecendo o percurso dos
assassinos, os jornais americanos fugiam a dizê-los muçulmanos, não faziam
referência à prática anormal da religião (ele ia à mesquita duas vezes por dia
e ela usava burqa e niqab) e que ambos tinham ligações ao país exportador do
sunismo radical, Arábia Saudita. Porém, acabou por se confirmar a pista do
terrorismo islâmico. Reduzir, como fez o NYT, um perigo eminente e agora sempre
iminente - o terrorismo islâmico - à epidemia americana das armas é não
entender que o massacre da Maratona de Boston, em 2013, foi cometido com panelas
de pressão. É mais um exemplo desse mal ocidental moderno de aceitar ser refém
do islamismo. Em duas guerras mundiais, as importantes comunidades alemã,
italiana e japonesa, originárias de países inimigos dos Estados Unidos, não
cometeram nenhum ato de terrorismo na nova pátria. Estavam integradas. Os
sucessivos casos de terrorismo islâmico nos EUA e na Europa dizem que há um
problema. Os jornais, mesmo os melhores, podem escondê-lo. Mas os cidadãos
sabem. Esta crónica é para ser lida com os resultados eleitorais, ontem, em
França.
Ferreira
Fernandes no Diário de Notícias de ontem.
Legenda: capa da
edição de Dezembro de 1975 da revista The New Yorker.
Sem comentários:
Enviar um comentário