terça-feira, 8 de dezembro de 2015

UM EDITORIAL QUE É UMA RAJADA NO PÉ


The New York Times publicou na primeira página um editorial sobre a "epidemia das armas" nos Estados Unidos. É, de facto, um escândalo a facilidade com que civis compram armas de guerra. No entanto, aquele editorial foi uma rajada no pé. Dias antes, um casal havia cometido uma carnificina na Califórnia: 14 mortos e 21 feridos. Apesar de se ir conhecendo o percurso dos assassinos, os jornais americanos fugiam a dizê-los muçulmanos, não faziam referência à prática anormal da religião (ele ia à mesquita duas vezes por dia e ela usava burqa e niqab) e que ambos tinham ligações ao país exportador do sunismo radical, Arábia Saudita. Porém, acabou por se confirmar a pista do terrorismo islâmico. Reduzir, como fez o NYT, um perigo eminente e agora sempre iminente - o terrorismo islâmico - à epidemia americana das armas é não entender que o massacre da Maratona de Boston, em 2013, foi cometido com panelas de pressão. É mais um exemplo desse mal ocidental moderno de aceitar ser refém do islamismo. Em duas guerras mundiais, as importantes comunidades alemã, italiana e japonesa, originárias de países inimigos dos Estados Unidos, não cometeram nenhum ato de terrorismo na nova pátria. Estavam integradas. Os sucessivos casos de terrorismo islâmico nos EUA e na Europa dizem que há um problema. Os jornais, mesmo os melhores, podem escondê-lo. Mas os cidadãos sabem. Esta crónica é para ser lida com os resultados eleitorais, ontem, em França.

Ferreira Fernandes no Diário de Notícias de ontem.

Legenda: capa da edição de Dezembro de 1975 da revista The New Yorker.

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