sexta-feira, 31 de dezembro de 2021

OS IMBECIS VÃO TOMAR CONTA DO MUNDO


 Possivelmente sei das razões que em cada dia do final do ano me lembrar da frase de Umberto Eco, mas nunca atino com a razão:

«Os imbecis vão tomar conta do mundo.»

Miguel Torga, em Milão, no último dia do ano de 1932:

«Não se pode dormir com tanta gente lá fora, aos uivos, a festejar o ano novo. Como se fosse possível um ano novo rer melhor do que o velho!»

Vergílio Ferreira, no findar de 1978:

«Estava eu a querer saber o que vou fazer este ano. Não sei.»

António Alçada Baptista, em Dezembro de 1984:

«Olho para o novo ano com fé e esperança. O meu incansável de sobrevivência faz-me recordar mais as alegrias que tive do que as tristezas. O que é que querem que eu faça? Gosto de viver e detesto a existência em forma de lamúria.»

O velho ano está quase a escapulir-se.

Foi mais um, e foi péssimo!

A Sophia gostava de dizer que não sabia por que as pessoas celebravam a passagem do ano porque o ano estava sempre a passar.

O tempo do meu cachimbo estar apagado, o meu copo vazio e a chegar-me a lembrança do Helder Pinho, na passagem do ano de 1972, a telefonar para casa do meu pai e a gritar-me, o Helder morava, junto ao Tejo, na Rua da Manutenção: «eh pá! estou a ouvir a ronca dos barcos no Tejo a saudar o novo ano. Que maravilha!...que maravilha.» e mais outra lembrança, José Saramago, na noite estrelada cálida e tranquila de Lanzarote, no findar do ano de 1994: «Ninguém mais no mundo quer esta paz?»

Agora, segue-se o salto sem rede no vazio incógnito do novo ano.

Será, então, tempo de voltar a acender o cachimbo, voltar a encher o copo.

Será?

5 comentários:

Seve disse...

Ó Sammy e toda a equipa CAIS DO OLHAR - BOM ANO. Muita SAÚDE para todos.

E já estamos a meio de Janeiro...

Seve disse...

E tenho sentido a falta das mensagens do CAIS DO OLHAR, é verdade.

Seve disse...

Ó Sammy, quais foram os livros que leste em 2021?

Seve disse...

Ó Sammy, tá tudo bem? Este ano ainda não te "ouvi".

Sammy, o paquete disse...

Nunca me senti um tipo extraordinário.
Em nada.
Mas há dias assim… olhamos o espelho pela manhã e encontramos a face de um imbecil.
«E agora Sammy?», perguntava o outro.
«Idade para ter juízo», ouviu em remate de rodapé.