quarta-feira, 22 de dezembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


 Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

Mais um livro que aborda a obra e a personalidade de José Saramago.

Maria da Conceição Madruga chamou ao seu livro: A Paixão Segundo Saramago.

É mesmo um livro de paixão. A Paixão do Verbo e o Verbo da Paixão.

Mário David Soares, à guisa de prefácio, escreve:

«Para quem gostar de Saramago, para quem ainda não compreende Saramago, para quem tem que analisar Saramago este é um livro fundamental para aprofundar gostos, ultrapassar incompreensões e ajudar a análises.»

É um livro apaixonado e as paixões não se explicam.

O percurso de leitura de Maria da Conceição Madruga inicia-se com o Manual de Pintura e Caligrafia e termina com a História do Cerco de Lisboa.

Seguindo estes livros, sublinhei os sublinhados que a autora fez dos livros de Saramago.

Importa pouco, ou nada, se são coincidentes.

Entremos no primeiro capítulo do livro: O Enigma da Leitura:

«Os livros de Saramago abertos sobre a mesa são uma rememoração, um chamamento. Convidam-nos à viagem, em busca do fio que nos conduza no labirinto do conhecimento de nós, do mundo, do Conhecimento. Viagem inaugural, redentora e de retorno à infância, na acepção de Blanchot: “Continuamos a ler desde há milénios, como se mais não fizéssemos do que começar a aprender a ler”.

Saramago revela-se-nos, desde logo, o contador da História e de histórias, que nos fascinam e nos apaixonam. É a grande Voz e o grande Olho, dizendo o que ouviu e viu, lá em nenhum lugar. Nem em nenhum tempo, porque como ele próprio refere, “tudo provavelmente são ficções” (Citação de A Jangada de Pedra, pág. 138 (2ª edição, Nota do Editor).

«Retemo-nos nas suas páginas, tentando aliar a paixão da deriva à exigência do olhar. Assumimos uma leitura de paixão e de desespero provocada pelo próprio texto, onde um narrador irónico e mordaz se compraz em demonstrar-nos a (im)possibilidade de interpretar.»

Conceição Madruga neste capítulo, faz uma citação de O Ano da Morte de Ricardo Reis:

«As frases, quando ditas, são como portas, ficam abertas, quase sempre entramos, mas às vezes deixamo-nos estar do lado de fora, à espera de que outra porta se abra, de que outra frase de diga.» (Citação de O Ano da Morte de Ricardo Reis, pág. 183, 1ª edição, Nota do Editor.)

Esta frase está sublinhada pelo editor, pertence a um diálogo de Marcenda com Ricardo Reis. Fica aqui o sublinhado do editor:

«Não deve perder a esperança, Suponho que essa já está perdida, qualquer dia sou capaz de ir a Fátima para ver se a fé ainda pode salvar-me. Tem fé, Sou católica, Praticante, sim, vou à missa, confesso-me, comungo, faço tudo o que os católicos fazem. Não parece muito convicta, É jeito meu, não pôr muita expressão no que digo. A isto não respondeu Ricardo Reis, as frases, quando ditas, são como portas, ficam abertas, quase sempre entramos, mas às vezes deixamo-nos estar do lado de fora, à espera de que outra porta se abra, de que outra frase de diga.»

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