quarta-feira, 8 de dezembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


 

Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

Isto foi o que se escreveu a abrir as hostilidades de reler os livros de Saramago e escolher sublinhados.

Ao quarto ou quinto dia de escolhas foi avisado dizer que se iria também entrar nos livros sobre José Saramago, e pelas inúmeras entrevistas que deu, algumas em papel de revista ou jornal, algumas já coligidas em diversos livros.

Hoje peguei na conversa que Baptista-Bastos teve, em Lanzarote, com José Saramago – José Saramago: Aproximação a Um Retrato.

Na abertura do livro, prefácio a que chamou A Ilha Ardente, escreveu Baptista-Bastos:

«Todos nós vivemos em ilhas. Todos nós vivemos cada vez mais em ilhas. As nossas ilhas particulares começam quando desistimos de existir em continente, ou quando nos obrigaram a levar a adoração a outros deuses. Quer-se dizer: as nossas reclusões são deliberadamente procuradas ou rudemente impostas.»

Em Madrid, antes de rumar a Lanzarote, o Bastos esteve numa esplanada da Gran Via à conversa com o seu amigo Pablo Del Amo que lhe disse: «Sabes aquela de que nenhum homem vive numa ilha, mesmo que viva numa ilha?»

Baptista-Bastos termina o prefácio:

«Voltámos a conversar sobre as ilhas: as solitárias ilhas que muitos homens albergam nos solitários corações. Mas também entender que o grande mundo está cada dia menor, cada dia mais pequeno, e que, frequentemente, o grande mundo é uma pequena e solitária ilha. Habitada por cegos, como Saramago nos disse, numa parábola admirável. Diz: “viver em Lanzarote é, afinal, viver num bairro de uma grande ilha que é o pequeno mundo em que todos vivemos.”»

O argentino Claudido Hochman, um sábio de ilhas, por aqui deixou escrito:

«Quem levarias para uma ilha deserta? A Solidão. Só a Solidão? Sim, é uma boa companhia.»

«Há pessoas que vivem numa ilha sem nunca terem estado numa ilha. Rodeia-as um mar de silêncio.»

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