quarta-feira, 1 de dezembro de 2021

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


Dito já que começaram as iniciativas que visam registar o centenário do nascimento de José Saramago, acrescenta-se que irei pegando num qualquer livro de José Saramago e copiarei dele uma frase, um parágrafo, aquilo que constitui os milhares de sublinhados que, ao longo dos muitos anos de leituras, invadiram os livros de José Saramago que habitam a  Biblioteca da Casa.

De seu nome A Bagagem do Viajante, este é o segundo livro de crónicas de José Saramago.

O Manual do Viajante será mais uma das muitas invenções a que Saramago se dedicará para abrir os seus livros, para colocar nas contra capas.

Diz o autor a abrir o livro, e que viajante ele é?, que bagagem transporta?

… «é muito raro poder dizer-se que uma viagem é perfeita antes de acabar. Mas acontece.»

Se perceberá nos tempos futuros o que este mesmo viajante nos mostrará nesse belíssimo Viagem a Portugal.

«O mito do paraíso perdido é o da infância – não há outro. O mais são realidades a conquistar, sonhadas no presente, guardadas no futuro inalcançável. E sem elas não sei o que faríamos hoje. Eu não o sei.»

«Sempre foram caladas as minhas alegrias.»

(Página 21)

«Por causa de tudo isto me veio uma grande vontade de chorar. Ninguém me via, e eu via o mundo todo. Foi então que jurei a mim mesmo não morrer nunca.»

(Página 24)

«Desabafe, leitor, diga o que pensa desta comédia de enganos que vai sendo a nossa vida.»

(Página 55)

«Se não escrevi o livro definitivo que tornará a literatura portuguesa, enfim, uma coisa a sério, foi só porque ainda não tive tempo. Isto é o que me diz o meu amigo Ricardo, e di-lo com tal convicção, que muito céptico seria eu se não acreditasse sob palavra. (…) Digo “sim senhor”, se a intimidade não dá para mais, e se é o caso de dar, como acontece com o meu amigo Ricardo, acho-me tão eloquente que construo uma frase de oito palavras ‘então vê lá isso cá fico à espera. (…)
Na história que eu escreveria, havia uma aldeia.Logo na primeira página, sai o menino pelos fundos do quintal, e, de árvore em árvore, como um pintassilgo desce o rio e depois por ele baixo, naquela vagarosa brincadeira que o tempo alto, largo e profundo da infância a todos nós permitiu… Em certa altura, chegou ao limite das terras até onde se aventura sozinho. Dali para diante, começava o planeta Marte, efeito literário de que ele não tem responsabilidades, mas com que a liberdade do autor acha poder hoje aconchegar a frase. Dali para diante, para o nosso menino, será só uma pergunta sem literatura “vou ou não vou?”. E foi.
Não haverá grandes possibilidades de nos salvarmos, se não salvarmos a inteligência. Até ao dia em que já não farão falta os intelectuais, porque todos o serão.»

(Página 62)

« Quero eu dizer na minha que estas crónicas são também os dizeres de um fala-só. De modo que fala-sós somos todos: os loucos, que começaram, os poetas, por gosto e imitação, e os outros, todos os outros, por causa desta comum solidão que nenhuma palavra é capaz de remediar e que tantas vezes agrava.»

(Página 85)

«Não haverá grandes possibilidades de nos salvarmos, se não salvarmos a inteligência. Até ao dia em que já não farão falta os intelectuais, porque todos o serão.»

(Página 112)

Dirá José Saramago, já muito andado no tempo, que o melhor que os leitores podem encontrar, estará nas suas crónicas.

Alguém fez publicar na badana deste livro de bagagens e viajantes:

«Irei agora pô-lo (o livro «Deste Mundo e do Outro») naquele pedaço de estante onde vivem os livros que tenho de ver todos os dias, de tocar e folhear todos os dias e de ler nem que seja apenas um parágrafo.»

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