terça-feira, 8 de fevereiro de 2022

OLHAR AS CAPAS


Para Quê Tudo Isto?

Biografia de Manuel António Pina

Álvaro Magalhães

Capa: Rui Rodrigues

Contrponto Editores, Lisboa, Setembro de 2021

A infância é uma estação poética por excelência, mesmo porque recria esse melancólico original que é a infância do mundo: o início do espaço e do tempo. Na infância, não estamos ainda separados do mundo, somos parte dele. Porém, estamos então demasiados próximos dessa infância, demasiado imbuídos dela para a reconhecer como tal. Sim, a infância não se vê da infância. Eugénio de Andrade dizia que ela «nos aquece à medida que se distancia», que é um modo elegante de dizer que só a temos quando a perdemos. «E apenas por a termos perdido a amamos tanto», (Ruy Belo). Sim, só depois de se perder esse estado de graça, essa simples felicidade, se toma consciência disso, e se reconhece o «pecado da infelicidade». Portanto, só possuímos a infância quando ela já é apenas distância, ou seja, uma construção da memória. E a memória partilha da mesma condição ilusória da literatura e do ser. Ela mente, frequentemente («nós é que construímos o nosso próprio passado», dizia Pina, mas é tudo o que temos para nos aguentarmos à tona nas águas turbulentas da existência.)

2 comentários:

Seve disse...

Gosto muito deste escritor, apesar de só ter lido um livro dele (Crónica e Saudade da Literatura -creio que era este o título-).
Parecia-me uma excelente pessoa, daquelas que gostaríamos de ter como amigo.
E esta biografia parece-me muito interessante de uma pessoa algo solitária, até misteriosa mas sedutora e atraente realmente uma pessoa certamente muito interessante.

Sammy, o paquete disse...

SEm qualquer ponta de dúvida: um homem notável.