domingo, 13 de fevereiro de 2022

DOS REBOTALHOS E COISAS ASSIM...


 O Diário de Notícias, em reportagem sobre os resultados das eleições de 30 de Janeiro, foi até Baleizão, terra de Catarina, tentar saber o que pensam alguns habitantes sobre os tempos que por ali se vivem.

Uma das perguntas girava à volta do que havia a dizer sobre os votos, antes comunistas, e agora espalhados por aqui e por ali.

A resposta foi simples, que os velhos vão morrendo e os jovens que agora votam nunca passaram fome.

Albert Camus:

«Eu não aprendi a liberdade em Marx. É verdade:  aprendia-a na miséria.»

1.

Vamos esperando pelo novo governo, mas tempo ainda de saber de coisas não muito antigas.

Apesar do voto contra do Parlamento, no final de 2020, o Ministro das Finanças encontrou um subterfúgio para injectar 317 milhões de euros no Novo Banco ao longo deste ano que está a findar.

2.

Uma frase de Gonçalo M. Tavares no final de uma sua crónica no Expresso:

 «A justiça é amor, o amor é justiça. Nada mais há a aprender.»

3.

Ontem foi tempo de colocar por aqui a capa de um livro de António Osório, uma antologia de poemas feita por Eduardo Lourenço, há muito cá pela casa, e que já devia ter sido revelada.

Sobre este poeta, um tanto ou quanto pouco divulgado, escreveu Joaquim Manuel Magalhães:

Ainda não sei bem como falar de bom-gosto, depois de esse conceito ter sido a base de todo o discurso reaccionário tentando opor-se aos impulsos da arte ligada às efectivas vanguardas de entre as duas guerras. Há, por um lado, todo o peso dessa tradição do desmando, da escrita em abismo, cuja fulguração atravessa o nosso século literário. Ela tornou a palavra bom-gosto uma espécie de visco na boca dos académicos e das delicodoces almas dadas aos encontros devaneantes. Mas também ela, por outro lado, mesmo nas suas propostas de mais catastrófica vocação, vive de uma tensão, de uma escolha de um tecido de relações, de uma busca do menos gasto pelo tempo que são algo a que a expressão bom-gosto, num desígnio renovado, se poderia aplicar. O bom-gosto não como um padrão, mas como uma chegada. Não como um código, mas como uma disponibilidade. Não um enregelamento, mas o modo mais fulgurante por onde a superação se efectiva e sobrepõe ao dessoramento dos estilos, assumindo esta palavra em vez daquela, esta construção em vez da outra: enfim, uma obstinação em não chafurdar no lugar-comum dos outros. Mesmo que defendendo a ironia de expressar o lugar-comum do tempo, que pelo menos essa ironia o torne um lugar-comum apenas seu. É isto que subentendo ao tentar usar “bom-gosto” para definir a contenção da escrita de António Osório.
Bom-gosto que é, neste caso, rasura verbal, rejeição, visível trabalho da escolha, acertamento dos ritmos, ausência de monotonia vocabular. Esta ausência de repetições excessivas de palavras, que não deixam de se tornar obsessivamente inúteis em muitos dos nossos mais aceites poetas contemporâneos, revela uma imaginação verbal notável, sobretudo se tivermos em conta a extensão do volume que estamos a referir.»

4.

Quase mil médicos de família vão atingir este ano a idade da reforma.

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