sábado, 16 de março de 2024

VIAGENS POR ABRIL


         Este não é o dia seguinte do dia que foi ontem.

                                                  João Bénard da Costa

Será um desfilar de histórias, de opiniões, de livros, de discos, poemas, canções, fotografias, figuras e figurões, que irão aparecendo sem obedecer a qualquer especificação do dia, mês, ano em que aconteceram.


No dia 14 de Março de 1974 aconteceu a vassalagem das chefias militares a Marcelo Caetano, que ficou para a História, designada como a «Brigada do Reumático».

No Salão Nobre da Assembleia Nacional, numerosos oficiais dos três ramos das Forças Armadas, reuniram-se para afirmarem ao Chefe do Governo, prof. Marcelo Caetano, o seu apoio à acção de defesa do ultramar e, simultaneamente o seu espírito de unidade, lealdade e solidariedade.
Em nome de todos os militares falou o Chefe do Estado-Maior do Exército, General Paiva Brandão:

«Estamos unidos e firmes e cumpriremos o nosso dever sempre e onde quer que o exija o interesse nacional.»

Marcelo Caetano agradeceu proferindo um discurso designado como «A Todo o Desafio Temos de Dar Resposta.» que termina assim:

«Milícia é sacrifício. E mesmo, num mundo onde o egoísmo desenfreado e o amor das facilidades e dos prazeres parece reinarem, ai de nós se desaparecerem as instituições onde o desinteresse, o serviço da colectividade, a dádiva de si próprio persistam como grandes virtudes morais exemplares.
O País está seguro de que conta com as suas Forças Armadas. E em todos os escalões destas não poderá restar dúvidas acerca da atitude dos seus comandos.
Pois vamos então continuar, cada um na sua esfera, dentro de um pensamento comum, a trabalhar a bem da Nação.»

No dia seguinte, por não terem alinhado com a «Brigada do Reumático», os Generais Costa Gomes e Spínola, são exonerados dos cargos de chefe e vice-chefe das Forças Armadas. O General Luz Cunha é nomeado para chefe das Forças Armadas.

Mas a 16 de Março, uma companhia de 200 militares, metade são oficiais e sargentos, outra metade são praças, sai do Regimento de Infantaria nº 5 em direcção a Lisboa, sob o comando do capitão Marques Ramos e do tenente Silva Carvalho, com a missão de ocupar o aeroporto da Portela. Informada de que falhou a adesão de outras unidades, regressa ao quartel que posteriormente é cercado por forças leais ao regime e rendem-se ao brigadeiro Pedro Serrano.

Só no dia seguinte, a censura, com os habituais «CORTADO» e «APROVADO COM CORTES», permitirá que os jornais se refiram ao acontecimento.

Passados 50 anos sobre aquele sábado, ainda não é possível reunir elementos que permitam, com clareza, determinar o que foi este acontecimento da nossa recente História.

Há quem defenda que terá sido um golpe que serviu de ensaio ao 25 de Abril.

Vasco Lourenço, em Março de 1994, esclarecia:

«Se o 16 de Março tem vingado, não havia Programa do MFA.»

Oficiais sublevados, não identificados, em declarações ao Correio da Manhã de 4 de Abril de 1979:

«Se o golpe de 16 de Março de 1974 não tivesse fracassado, a situação portuguesa seria hoje muito menos sombria. Se a sua marcha sobre Lisboa tivesse sido coroada de êxito, o Poder central diferia substancialmente da que foi consignada pelo 25 de Abril. A descolonização dos territórios africanos teria sido inspirada por directizes muito diversas. Não teríamos traído as expectativas das colónias nem permitido os acontecimentos sangrentos que vieram a verificar-se e ainda se verificam.»

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