terça-feira, 11 de junho de 2024

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?

«A opinião corrente é que O lobo da montanha não vale grande coisa. Mas Silvana Mangano vale. A jovem atriz italiana, com quem o Rio não simpatizou muito, é um verdadeiro pão da terra. Uma mulher como as pintavam esses grandes sensoriais que foram Giorgiorie, na Renascença, e Renoir, no Impressionismo. Uma mulher como as esculpe Maillol, como as desenha Carlos Leão; como as descreviam Flaubert e Stendhal; como as poetizaram Camões, Whitman, Baudelaire. Seres moços e plenos, de formas pletóricas mas leves, belos braços roliços, rosto pesado e sensual, transpirando saúde e fecundidade. 


Hoje em dia esse tipo de mulher, embora apreciado à larga pelos homens, caiu muito no conceito das mulheres, que preferem o tipo criado por Vertès, de onde saiu o modelo moderno das revistas de moda - a mulher sem formas, sem busto, pousada em hastes longas e elegantes, de rosto magro e olhos puxados -, sempre em poses sofisticadas, os pés colocados em ângulos de balé, as mãos em posições de dança tibetana. Esse é o gênero de mulher apreciada pelos brotinhos de hoje em dia. Nada de Vênus de Milo. O ideal são as terracotas de Tânagra, as esculturas africanas, a linha Modigliani. 

Silvana Mangano acha evidentemente o contrário. A bela italiana exibe suas rotundidades com um gosto de dar gosto. Sua boca moça e fresca abre-se no rosto macio e irregular, num lindo sorriso de quem sabe estar dando as cartas. Sua desenvoltura física mostra bem que ela não dá muita bola ao tipo longilíneo. Silvana venceu ao dançar seu famoso jitterbug em Arroz amargo - um feito que muito deve ter surpreendido as bobby soxers de todo o mundo, com certeza a pensá-la incapaz, nos seus sessenta quilos prováveis, de toda aquela graça e leveza.«

Vinicius de Moraes em Cinema

Legenda: Silvana Mangano em O Lobo da Montanha

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