terça-feira, 11 de junho de 2024

OS NOMES NOVOS

Na primeira manhã da revolução

todos os nomes mudaram. As tuas mãos

eram pássaros os teus braços asas

os teus lábios átrios de canções que sobrevoaram

alegrias irrecusáveis. Os milagres sucediam-se

sem qualquer comando divino. Os desapossados

de tudo eram providos da maior esperança. As flores

não murchavam. Os peixes multiplicavam-se

na brasa diária dos afectos. Nas manhãs seguintes

acordávamos sempre à espera da queda

de mais um velho costume repressivo. A garganta

habitava todas as palavras que lutavam

contra os velhos saberes quantitativos

que só perguntavam quantos dólares tem um lucro

ou quantos litros tem um almude. Trocámos o nome

das praças das pontes e das avenidas. Levantámos

as cabeças curvadas com vozes ao alto. A Utopia

do Bem e da Equidade invadia-nos o peito

e nenhuma morte se atrevia a silenciar

este novo país contaminado de Futuro.

 

Inês Lourenço

 

Nota do Editor:  Poesia Pública é uma iniciativa do Museu e Bibliotecas do Porto comissariada por Jorge Sobrado e José A. Bragança de Miranda. Ao longo de 50 dias publicaremos 50 poemas de 50 autores sobre revolução. Este poema foi tirado do Público de 20 de Abril de 2024.

Sem comentários: