sábado, 9 de novembro de 2013

OLHAR AS CAPAS


Caderno II

Albert Camus

Tradução e Prefácio: António Quadros
Capa: Infante do Carmo
Colecção Miniatura nº 162
Edição Livros do Brasil, Lisboa s/d

Lucas, VII, 26: «Pobre de ti, quando todos os homens disserem bem de ti.»

Para A Peste: Há nos homens mais coisas a admirar do que a desprezar.

«Creio cada vez mais que não devemos estabelecer um juízo sobre Deus a partir deste mundo, que não é senão um esboço que lhe saiu mal.»

Id. O que censuro ao cristianismo, é ser uma doutrina de injustiça.

Com que direito um comunista ou um cristão (para não falar senão nas formas respeitáveis do pensamento moderno) me poderiam censurara por ser pessimista? Não fui eu quem inventou a miséria da criatura, nem a s terríveis fórmulas da maldição divina. Não fui eu quem disse que o homem era incapaz de se salvar sozinho e que no fundo do seu rebaixamento, não haveria esperança definitiva a não ser na graça de Deus. Quanto ao famoso optimismo marxista, deixem-me rir. Poucos homens terão levado tão longe a desconfiança para com os seus semelhantes. Os marxistas não acreditam nem na persuasão nem no diálogo. De um burguês não pode fazer-se um operário e as condições económicas são no seu mundo fatalidades mais terríveis do que os caprichos divinos.
Quanto ao Sr. Herriot e à clientela dos Annales?
Os comunistas e os cristãos dir-me-ão que o seu optimismo é de maior alcance, que é superior a tudo o resto, e que Deus ou a história, segundo os casos, são os desfechos satisfatórios da dialéctica que empregam. Tenho o mesmo raciocínio a fazer.
Se o cristianismo é pessimista quanto ao homem, é optmista quanto à condição humana. O marxista, pessimista quanto à natureza humana, é optimista quanto à marcha da história (a sua contradição!). Por mim, pessimista quanto à natureza humana, sou no entanto optmista quanto ao homem.
Como não vêem eles que jamais se lançou semelhante grito de confiança no homem? Creio no diálogo, na sinceridade. Creio que são a via de uma revolução psicológica sem igual; etc.

Os limites. A este respeito, diria que há mistérios que convém enumerar e meditar. Nada mais.

Política da revolta. «É assim que a revolução pessimista se torna revolução da felicidade.»

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