quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

O TENENTE-CORONEL E O NATAL


A única coisa que quero do Natal é que acabe depressa, acabem depressa as avenidas iluminadas, as lâmpadas nas árvores, a agitação das lojas, toda esta gente nas ruas, os embrulhos, os laçarotes, as fitas, os vizinhos que me deixam bocados de pinheiro nas escadas, o filho da porteira empregado num armazém de roupa a sir de casa vewstido com um casaco encarnado, soprando a barba de algodão para me dizer
- Boa tarde senhor tenente-coronel
e eu a desligar o telefone para que não me macem, a esquecer a caixa do correio a fim de não aturar as boas-festas de ninguém, eu de televisão apagada porque detesto filmes bíblicos, sinos que badalam, mensagens dos primeiros-ministros e programas de circo, e nisto o engenheiro do terceiro-esquerdo todo sorrisos
- A minha mulher manda perguntar se não quer passar lá por cima à noite para comermos uma fatia de bolo-rei juntos.

António Lobo Antunes em Livro de Crónicas, lº volume, Publicações Dom Quixote, Lisboa, Março de 1999.

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