domingo, 15 de dezembro de 2013

NATAL


Todos os anos à hora marcada
desces do céu onde é o teu lugar.
E logo o erro já me não diz nada
e fico a acreditar.

Aéreo encanto de uma voz perdida
no que de voz começa em ser criança,
nada de vida em ti é ainda vida,
e é o que não cansa.

Ficasses tu assim no que hás-de ser
e não seres nunca um homem por inteiro…
Porque o teu berço tem mais p'ra dizer
que o teu madeiro.

Fica-te aí, sorri, que tudo é vão
no mais que fores quando fores gente.
Toda a verdade está nessa ilusão
de estares presente.

Que o teu sorriso não é de ninguém;
nem é de ti, que inda o não sabes ser,
nem é dos outros, que já só o têm
em o estar a ver.

Mas perto e longe, por tê-lo e não tê-lo
é que tudo é belo.

 Vergílio Ferreira, Conta-Corrente 2º volume, Livraria Bertrand, Fevereiro de 1981

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