terça-feira, 26 de junho de 2018

E AGORA TU RÓIS-TE


Um certo tipo de vida quotidiana (horas fixas, ambientes fechados, as mesmas pessoas, formas e locais de oração) induzia a pensamentos sobrenaturais. Saia-se deste esquema e os pensamentos evaporam-se. Somo feitos de hábitos.
O local próprio para a tua pessoa é a avenida de Turim, aristocrática e modesta, primaveril e estival, calma, discreta e vasta, onde se formou a tua poesia. A matéria vinha de muitos sítios, mas aqui é que encontrava a forma.
Esta avenida, e o pequeno café que ali ficava, foram o teu quarto, a janela aberta para as coisas. Quando te volta o instinto de poetar, procuras estes locais. Para narrar, não. As Recordações de Duas Estações foram escritas no café e, no fundo, também Terras do meu país e a Tenda. Portanto…
O facto é que perdeste o gosto de ver, de sentir, de acolher e agora róis-te todo.

Cesare Pavese em Ofício de Viver

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