sábado, 21 de julho de 2018

A DESTRUIÇÃO DA VIDA SOBRE A TERRA


Estamos a chegar às últimas palavras das Memórias de Rómulo de Carvalho.
O que se segue, foi o que o professor, poeta e cientista, quis deixar aos seus tetranetos  no dia em que fez 90 anos:

E assim chegámos ao ano de mil novecentos e noventa e seis, ano em que completei noventa anos de idade no dia 24 de Novembro.
Pesai estas palavras, meus queridos tetranetos, e reconhecei quanta paciência é necessária para viver tanto tempo. Pode ser que os progressos da Ciência façam desta idade apenas um valor médio das idades nos anos dois mil e tal em que vocês caminhem sobre este planeta. Mas também é possível que essa mesma ciência já tenha destruído as vossas vidas. Por enquanto ainda vamos aguentando tudo isto. Mas qual será o meu futuro ou seja o vosso presente? As águas dos rios e dos mares estão cada vez mais poluídas. As fábricas lançam neles os resíduos do que produzem e envenenam-nos. Os peixes mortos, aos montões, flutuam nessas águas. Os animais dão-nos carne engordada com os produtos químicos que s obrigam a engolir. As florestas estão a ser completamente dizimadas pelo fogo ou pelas serras que as cortam. A atmosfera está poluída com os produtos gasosos que as fábricas e os motores dos automóveis libertam incessantemente. Tudo se encaminha para a destruição da vida sobre a Terra, e creio que todos estamos nisso de acordo, excepto talvez o papa. E a tudo isto Deus assistirá repimpado na sua poltrona de nuvens.

Rómulo de Carvalho em Memórias

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